Exmo Sr Professor
Decidi escrever-lhe hoje.
Hoje, depois de mais uma vez o ter ouvido ontem.
Ontem, com a atenção que é possível durante um dia de trabalho e uma pausa, a que o comum dos mortais chama jantar e, um Juiz, chama apenas pausa para continuar a trabalhar.
Foi o ultimo candidato a ser entrevistado, creio não estar errada ( não é que me engane com frequência e tenha muitas dúvidas) é que não gosto nada de me enganar.
Ser o ultimo é só por si um previlégio.
Talvez acredite que se cumprirá o velho ditado de que " os últimos são os primeiros".
Pode ser!
Também nas audiências de Julgamento o arguido é o ultimo a falar. Constitui isso , sem dúvida, um previlégio, para além do previlégio de poder falar em qualquer altura da audiência.
Não que os candidatos estejam a ser julgados, ... mas estão a ser "ajuizados", não no sentido de terem mais ou menos juizo, mas no sentido de estarem a ser avaliados, ...analisados.
Julguei sinceramente que, como homem de ciências exactas que é, nos trouxesse, de forma objectiva algo de concreto.
Pensei que, finalmente iria ouvir um candidato que se definisse como futuro Presidente da República, um candidato que tivesse a noção exacta dos seus poderes dentro da República Soberana que é a nossa e, dentro de uma lei Fundamental que é a nossa.
Mas não. Para meu grande espanto.... Nada!
Disse apenas Vossa Excelência e em súmula que:
"Sou um candidato para salvaguardar o Futuro dos Portugueses; (...) A imagem de credibilidade do PR é muito importante para o País; (...) Em vez de imagens de retórica cumprirei aquilo que escrevi no texto - " As ambições para Portugal".
E a Constança Cunha e Sá lá foi insistindo, mas ... Nada!
Nós sabemos que são sete as suas ambições.
Até as ouvimos aquando da apresentação da sua candidatura. Mas, sinceramente, ficámos na mesma!
Ora vejamos:
Define a CRP como PR, o individuo, cidadão português de origem, com mais de 35 anos que, representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Forças Armadas que , no dia em que tomar posse prestará o seguinte juramento ou declaração de compromisso:
"Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa."
(Vossa Excelência fez questão de frizar que não sendo um politico profissional , para além de todos os cargos que já ocupou, até cumpriu serviço militar no Ultramar.
Graças a Deus que a ser eleito, teremos um PR que sabe o que é cumprir serviço militar e, no Ultramar, que não é o mesmo que andar a fazer figurinhas na 1º Companhia de um canal popular.)
Bem, piadinha á parte, continuemos.
Ora, dos poderes que a Constituição confere ao Presidente da República e, tenha-mos em conta que Portugal é uma Republica Soberana , o leque parece curto mas, é poderoso.
O Artº 133º CRP- define o que compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos; O 134º CRP determina a competência do PR para prática de actos próprios; O artº 135º CRP - diz o que é o direito de Veto do PR e, o artº 140º CRP- fala-nos da referenda ministerial.
Era sobre isto que nós queriamos que nos falasse Sr. Professor.
"Isto" e o Sr Professor como se conjugam?!?
A Constança lá insistiu, lá ía insistindo, mas Vossa Excelência,....Nada!
O que nós queriamos era saber mesmo, quais os poderes que o nosso PR tem, ao vivo e a cores.
Queriamos saber o que é que ele pode fazer para ajudar ao desenvolvimento de um País que já foi um Império e, está como toda a gente diz, "na cauda da Europa".
E olhe que a cauda é.. um sítio muito crítico... seja ela de quem for ou do que for...
Bem, também dizem que é... o pior de esfolar.
Talvez possamos então ter uma esperança(!).
Se estamos depois de países que há bem pouco tempo passaram a fazer parte da UE, queriamos saber, que pode o PR fazer para que não fiquemos depois deles e no tal sítio deselegante, desagradável e......... não sei se mal cheiroso... (nunca tinha pensado nisto!)
O que nós queriamos Sr Professor, era que nos explicasse como luta um PR contra a corrupção, o favoritismo a queda vertical e vertiginosa de toda uma economia e de uma Nação.
Afinal, Vossa Excelência é um brilhante economista, por cujos os livros me orgulho de ter estudado.
O que a Constança queria, e nós, que fizemos a tal pausa queriamos, era que nos dissesse concretamente em que casos punha a hipótese de dissolver a Assembleia da Republica ou demitir o Governo.
Bem, aqui , foi cuidadoso e disse que ainda não tinha elementos para o julgar quanto mais para o demitir.
MUITO BOM!
Também queriamos saber, se a tal imagem do PR que dá prestigio ao país , é uma imagem estática ou não.
Porque Sr. Professor, como Presidente desta nossa Républica ,Vossa Excelência, se for eleito, tem o poder de pôr o país a tocar a música que quiser!! O Presidente não precisa de mais poderes como dizia há dias o Professor Jorge Miranda.
Precisa é de conhecer bem, os poderes que tem e de os concretizar dentro , claro, dos limites Constitucionais.
Só queriamos saber de que música gosta!!!
E que instrumentos entende que devem ser tocados quer a nível interno quer a nível externo.
Dizia o Sr. Professor que um grande analista politico disse há dias que, o Povo, tem um grande sentido da politica, mais que os politicos que vivem fechados nela.
Será que, foi na esperança de que assim seja realmente, que não nos definiu nada de nenhuma das afirmações que foi fazendo?
Em linguagem audível para o mais simples cidadão e concreta para o mais interessado e desejoso de afirmações definidas e definidoras?!
O Sr. Professor não é um homem do Direito, em que tudo tem várias possibilidades, nem um poeta a quem é fácil acreditar no futuro e sonhar o melhor e o impossível, ou um idealista de esquerda que, olhos nos olhos, nos vai dizendo o que também não nos diz nada.
O Sr. Professor é um homem de ciências exactas e afirmou com exactidão que iria ajudar o governo a erguer o país e garantir aos Portugueses um Futuro... mas, como qualquer outro candidato, deixou-nos sem sabermos...como!
O que nós queremos é o como. Concreto e palpável.
O que nós queremos é saber se o PR pode mesmo levantar ou ajudar a levantar um país pequenino que já deu Novos Mundos ao Mundo!
Alguém disse que não tem formação humanista....Mas tem formação humana.
Alguém disse que tem tendencia para transformar a Presidencia da República num supra poder... era isso que queriamos ter ficado a saber.
Um dia destes vou voltar a escrever-lhe sobre as suas ambições.
As tais sete ambições que o levaram a candidatar-se e, vou perguntar-lhe muito concretamente o que quer dizer com cada uma delas e como pensa pô-las em pratica.
Não entregue a carta a ninguém que não a saiba ler e se me responder... responda-me com factos não com afirmações conclusivas.
É que eu sou uma mulher de Direito , habituada a julgar e apreciar factos para poder concluir.
Sem eles não posso "ajuizar", e, tendo de votar, por deformação profissional e com falta de factos, não poderei fazê-lo em consciência.
Sendo certo que aí...raramente me engano e nunca tenho dúvidas!
Com os melhores cumprimentos
Uma cidadã eleitora curiosa e expectante.
ACCB
PS. Quanto aquela dos enganos e das dúvidas, eu sei que Vossa Excelência procurou e não encontrou nada onde isso estivesse escrito como prova de que tivesse sido dito por si. Mas como nem tudo o que se escreve é o que disse, como aconteceu com a posição que tomou sobre o Iraque em que nada escreveu e muito foi dito por si, deve ser este um caso semelhante.
15.11.05 - ACCB