O Dedo a Lua e o Ministro da Justiça.
Há um provérbio chinês que diz mais ou menos isto:
«Quando o sábio aponta para a lua, o idiota olha para o dedo».
*
Era já este provérbio referido na crónica de Miguel de Carvalho - Palavrasdeparede da Visão, há bem pouco tempo.
São sábios os chineses.
Não em tudo, mas nestas coisas dos provérbios, nós ocidentais achamos graça e gostamos de os citar, mesmo que façamos mau uso dos mesmos, nas nossas citações.
Vem este intróito, a propósito do discurso do Senhor Ministro da Justiça no passado dia 26.11.05 no Congresso de Juízes em Albufeira.
Diz o Sr Ministro a certa altura do seu não aplaudido discurso:
"Quem olha só para o dedo e não para o que ele aponta, verá uma soma casuística de iniciativas, destituídas de uma linha lógica."
Ora, como supra referido, já o Miguel de Carvalho dissera isto antes, e o Sr. Ministro repetiu-o novamente, na referida data e lugar.
Não sei se o Miguel de Carvalho é um curioso da cultura oriental como eu ou, se já esteve em Macau como o Sr. Ministro.
Ora, assim sendo, posso concluir com facilidade que, quem convive de perto com uma cultura conhece-a melhor do que, quem apenas a procura em viagens livros ou imagens e, aproveita para a citar, porque lhe conhece o sentido mas, apenas acha graça.
Isto porque quem convive de perto com ela, aproveita para lhe fazer referencia porque, o seu intuito é falar através dela e, neste caso, dos provérbios.
Quem conhece um pouco da cultura oriental sabe que nela os provérbios têm uma importância fundamental.
E no caso da cultura chinesa, o uso dos provérbios na língua é quase obrigatório, ainda que seja numa conversa simples, ou num texto do dia-a-dia.
Para os chineses, os provérbios são sentenças concisas e prontas que todos conhecem.
De maneira geral, os provérbios de forma mais refinada têm origem em passagens históricas ou literárias – procedem de pensadores consagrados ou de poemas famosos – e são eruditos, os chamados chéng-yü (que literalmente significa: expressões feitas).
Já os provérbios que usam termos mais simples, mais comuns, são muitas vezes de origem desconhecida (tradição oral), são os provérbios populares, os chamados sú-yü (que literalmente significa: expressões populares).
As expressões consagradas, são milenares.
Entre os eruditos, saber citá-las corretamente no momento oportuno é uma forma muito agradável de manifestar conhecimentos, pois ser erudito, para os chineses, é, antes de tudo, conhecer a sabedoria dos antigos e poder citar, de cor, as sentenças consagradas.
O Sr. Ministro fez uso de um provérbio...por acaso não sei se é milenar... deve ser, mas é popular de certo. E, serviu-se dele para disfarçadamente chamar aos presentes naquela sala - Idiotas.
Mas não somos senhor Ministro.
E ainda Vossa Excelência não sabia como iria ser recebido, já nós sabiamos que Vossa Excelência tinha receio da recepção.
Recebêmo-lo com cortesia, educação institucional e como manda o protocolo.
Mas recebêmo-lo também com indiferença Institucional.
A mesma a que nos vem votando nos ultimos tempos quem está como Ministro da Justiça.
E não somos idiotas...
Nem admitidos que nos tratem como tal.
A prova, se a quer, está nos discursos que vieram a seguir ao seu.
Não lhe querendo falar já, do brilhante discurso do Sr. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça na abertura do Congresso, ( que espero que leia ou tenha lido ) e, não o querendo lembrar do enérgico discurso do Sr. Presidente do Supremo Administrativo que tão bem como eu, ouviu.
Também não lhe recordo o discurso do Presidente da ASJP que foi em menos de dois minutos interrompido quatro vezes para ser aplaudido...
Em todos eles, cada um de nós só lhe quis dizer uma coisa Sr Ministro:
*
“Prefiro ser jade, ainda que despedaçado, do que um tijolo, ainda que intacto”.
*
E já que estamos em maré de falarmos, não entre dentes, mas entre provérbios e , de idiotas e de Lua, aqui vai mais um:
*
Confúcio, já na velhice, disse:
"Os erros de um cavalheiro são como eclipse de lua ou de sol, não há como esconder-se, todos os enxergam (XIX, 21).
*
Fique-se com esta senhor Ministro .
Tenha uma boa semana.
Que nós por cá... todos bem.
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ACCB - 27.11.05
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13 Comentários:
Está tudo dito!
Enviei-o para outro blog (verbo jurídico), com a sua permissão (creio)
o Fernando Pinho afinal não percebe nada de poesia. Só a vê onde lhe dizem que a há!
Subscrevo em ABSOLUTO, ou melhor em "ab surdus".
Quem lá esteve percebe o que os blogs dizem e que a comunicação social não entendeu.
Começo a acreditar, socraticamente, que a comunicação social só fala daquilo que compreende.
É uma questão de compreensão ... lenta!
Um dia compreenderão... espero que, então, não seja "tarde demais".
Poesia pura.
E mais nada.
Ptolomeu......
Quem és tu????
Se me permite Cleopatra (e antecipadamente lhe peço que retire este comentário se não o achar conveniente ou grosseiro) a propósito de todas estes mandos, desmandos e quejandos na justiça só me apetece citar Mário Henrique Leiria, no seu "Novos Contos do Gin Tónico":
"A MINHA QUERIDA PÁTRIA
a pátria
os camões
os aviões
e os gagos-coutinhos
coitadinhos
a pátria
e os mesmos aldrabões
recém-chegados
à democracia social
era fatal
a pátria
novos camões
na govenança
liderando
as mesmas
confusões
continuando
mesmo assim
as velhas tradições
de mau latim
na Eneida
enfim
sabem que mais?
pois
vou da peida"
Tenho dito
PIM!
Viva Eva!!!
Bom dia!!
É raro vir aqui a esta hora e encontrar já , madrugadores.
Fica o comentário sim.
Porque não haveria de ficar se tão a propósito??
Tudo de bom por essa casa da Justiça.
Por aqui... ficamos bem.
Cleopatra, salta-me o pensamento para outra Cleopatra de doces olhos verdes e sorriso cristalino...
Não tenho tido muita disposição para comentar este tema…. Claro que concordo em absoluto com certas reacções que aqui se encontram, nomeadamente a da Cleópatra que deu a cara , abriu o livro e disse tudo (ou quase tudo) que lhe ia na alma, relativamente ao Sr. Ministro, versos, Governo.
Sem querer de forma alguma defender as atitudes do Ministro que, relativamente à classe em causa (e outras) tem tomado atitudes, nada populares, só queria referir, que, de acordo com o meu entendimento, este limita-se a desenvolver a politica do governo.
Porém, medidas são medidas, postura e arrogância é outra coisa.
Claro que no presente texto, não é dito em qualquer passagem que o responsável é o ministro. Entendo. O que o mesmo nos mostra (e muitos já sabemos) é a postura desse senhor. Isso sim. Como todos sabemos há muitas formas de “mandar à m…” (piii) as pessoas. É ou não verdade?
Por outro lado, acho também que se deve entender a sua posição. Por muito contrário que ele fosse (e não digo que o seja) às politicas do governo, tinha de defender a sua dama…. Não será verdade?!
Meu caro Fernando Pinho
A resposta não é para si que, apesar de tudo se interessa, mesmo não gostando, por esta nossa linguagem.
Mas, todavia, apetece-me responder:
- Que tal um curso de linguas???
- Que tal um tradutor?
- Que tal...que tal???
Não se preocupe... eles acabam por ir lá... nem que seja só por gestos.
QUANTO AO PTOLOMEU
Será o mesmo que passou pelo Egipto?...
Tenho uma vaga ideia...afinal não assim tão vaga...
Apesar das épocas....
Fernando Pinho
Isso é um desafio?
Eu adoro desafios.
Não pertencendo à vossa classe, tenho acompanhado e muito perto a evolução dos acontecimentos.
Felicito antes de mais a Cleópatra pela frontalidade que já lhe conheço e tenho vontade de deixar uma mensagem: aproveitem agora para se defenderem de anos de acusações de "justiça lenta" e "é esta a justiça que nós temos" etc, etc... Chega!!
Quem tem calado, tem consentido...
Exijam o que é vosso de direito e desfaçam essa imagem que vos vem sendo posta e imposta há muito tempo! Defendam-se!
Tudo isto teve um lado positivo: serviu para unir a vossa classe. Agora que já sabem que falam a uma só voz não voltem para trás.
Esta é a melhor altura para explicarem ao povo português o que a comunicação social não explicou ainda. Força!!!
PS- Por favor...tentem não falar nem escrever em "juridisquês"... Senão, mesmo que o "Zé-Povinho" vos queira compreender, não consegue...
Obrigada Morgana!!!
Andava in the dark side?
Há muito tempo que não a lia por aqui!
Afinal parece que partilha da opinião do Fernando Pinho.
Concordo que a nossa linguagem - juridiquês - como lhe chama.....(juridiquês....é giro! ) nem sempre é fácil nem acessível, nem clara, nem popular...
Mas há-de concordar que a comunicação social não nos dá tempo de antena.
Um dia destes, talvez escreva algo sobre esta falta de tempo de antena.
Ah!
É verdade, parece-me que sim... falamos todos a " UMA SÓ VOZ!"!!
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