CleopatraMoon

Um Mundo à parte onde me refugio e fico ......distante mas muito próxima.

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Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “ A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. Apontamento: Gosto que pensem que sou parva. Na verdade não o sou. Faço de conta, até ao dia em que permito que percebam o quanto sou inteligente.

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sábado, outubro 14, 2006

A Violência e as Crianças

Picasso
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A ONU elaborou e divulgou um relatório sobre o aumento da violência contra as crianças no mundo.
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Há dias, logo de manhã, eu e o meu filho arranjámos uma briga de 20 minutos que só terminou depois de eu, irada, levantar a voz e pregar uma valente palmada nas pernas da criança em questão.
Saímos zangados.
Amuados e sem nos olharmos.
Doeu-me até ao fundo da alma e, até à porta do colégio, onde o deixei sem um beijo, gesto que é tão costumeiro como demorado e se perde em frases de " Deus te guarde. Dá um beijo à mãe para me correr melhor o dia, Até logo" etc etc, até não se poder mais, porque o tempo foge e não dá espaço a ternuras.
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Cheguei ao Tribunal e no elevador uma colega surpreendeu-me de respiração acelerada e mal encarada.
Não é hábito e vai de perguntar:
- Então?!
-Então?! Hoje bati no Guilherme!
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Não é que não tivesse acontecido em 9 anos uma ou outra vez. Mas confesso que é uma violência.
Ai é sim
Para ele.
Para mim.
Roída de raiva porque não me despedi com um beijo e roída de raiva porque só consegui impôr ordem na discussão com uma forte palmada nas pernas da criatura em questão, que por acaso, até é o meu filho mais novo.
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Claro que não é a este tipo de violência que o tal regulamento se refere.
E agora eu pergunto, para que servem relatórios?
Para dizer que alguém pensou nisso?
De que servem intenções que se estendem a nível Mundial?
Para se dizer que alguém se preocupa com as crianças?
E porque será que há violência por parte dos adultos?
Um ser violentado é seguramente um ser violento?
De que servem comissões de proteccção a menores, se não as há de apoio a maiores?
Tirar as crianças a quem os violenta?
Sim.
Mas há tanta violência psicológica!
Como fazer então?
Começará a prevenção por cima ou terá de recair em primeira mão, sobre as crianças?
Actuar onde?
No adulto ou na criança?
Nos dirigentes politicos?
Porque não por aí?
Provavelmente são eles quem mais permite essa violência...quem mais contribui para essa violência, quem esquece ou finge ignorar tanta violência, tanto silêncio, tanto medo, tanta vergonha calada.
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A questão não é simples.
Exagera-se para os dois lados.
Se por um lado bater se tornou tabu, não há mãe ou pai que não tenha já pregado uma palmada ao seu filho ou filha.
E reparem " no caso concreto supra referido", - ;) - a violência esteve no espanto. Na surpresa do gesto não habitual.
Talvez seja apenas um correctivo.
Talvez a dor psicológica de quem actuou assim, seja maior que a dor física de quem foi alvo da actuação....
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Mas violência mesmo , são os bombardeamentos, os abusos sexuais, os maus tratos reiterados e repetidos, fisicos e psicológicos, os medos que algumas crianças vão tendo só ao som dos passos do pai ou da mãe que por frustrações ou humores descontrolados, passaram a tê-los como alvo, ou objecto, das descargas psicológicas não contidas.
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A indiferença deliberada, o silêncio castrador, a carência de gestos protectores...a ausência constante de um dos progenitores...
Pode-se estar perto e tão ausente...
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E a violência vem também de colegas de escola. Grupos na escola. Brincadeiras cruéis que parecem inofensivas por virem de crianças, mas são cruéis. Simplesmente cruéis, que deixam marcas eternas.
Normalmente têm lugar nas escolas...
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DEixo apenas simples referências.
Referências soft.
Leiam o relatório, vale a pena..........................................
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À noite ainda nos olhávamos de lado, mas para dormir vieram os beijos do costume.
O não resistir ao carinho morno do abraço aconchegado para dormir e sonhar.
O beijo e o "Dorme bem. Sonhos bonitos" e ainda o "És uma querida"- sussurrado baixinho e como um passarinho que se aninha para dormir.
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Não é desta violência que fala o relatório.
Estejamos atentos e sejamos atentos, independentemente de relatórios.
Por vezes basta olhar nos olhos de uma criança ou ouvir-lhe os risos; presenciar-lhe as brincadeiras...os papéis escolhidos para si e para as suas conversas imaginárias....
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Durmam bem
E sonhos bonitos! ;)..........................................( se conseguirem ter sonhos bonitos depois deste post!)
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ACCB
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9 Comentários:

Blogger Brandybuck disse...

Concordo plenamente.
Uma palmada dada na hora certa, pode evitar muitos problemas futuros.
E como nos doi quando temos de dar essa palmada.

Um beijo

15 outubro, 2006  
Blogger José Manuel Dias disse...

clpa...clap..clap.

15 outubro, 2006  
Blogger Silêncios disse...

Muitas vezes isso acontece no dia dia... mas quiseramos nós, de facto, que essa fosse toda a violencia a que estão expostas a s nossas crianças

15 outubro, 2006  
Blogger Eva disse...

Queria o mundo que fosse só essa a violência sobre as crianças.
Eu sei bem do que fala e do quanto isso nos angustia a nós mães, por sentirmos que não fomos capazes de resolver de outra forma uma questão pendente.

Hoje trouxe da escola do meu filho um texto que fabuloso sobre maus pais. Assim que tiver um tempinho venho aqui pô-lo.
Um beijo

Eva

16 outubro, 2006  
Anonymous Anónimo disse...

Os pais têm de ser pais, e uma palmada merecida dói menos que uma lavagem de cérebro de 2 horas, eu sei (embora resultasse na mesma) mas depois ficava com um sentimento de culpa de morte (e pensava, mais valia me ter dado a chapada e resolvíamos isto em 5min)

Os analistas da psique, falam em traumas, recalcamentos.

Que traumas e recalcamentos vai ter uma criança a quem foi dado tudo, tudo foi permitido…quando chegar à vida adulta e perceber:
- que o mundo não é justo;
- que não se consegue tudo o que quer;
- etc. (pois coisas menos boas é o que há mais)

Que limites terão para conseguir os seus objectivos?

Eu tenho 30 anos e só me lembro de ter levado um estalo, foi a minha mãe que o deu, e foi muito bem merecido, podia ter levado outros mas não me lembro.

Violência para as crianças é traze-las ao mundo e não lhes dar amor, carinho, comida, tecto, educação, ensinar-lhes o que é certo ou errado!

TG

17 outubro, 2006  
Anonymous Anónimo disse...

Não me recordo de uma única palmada do meu pai, mas era um homem violento! Da minha mãe recordo vagamente uma meia dúzia delas, mas é uma pessoa de grande sensibilidade, de afectos, ce carinhos!

Grande "post" sereníssima! Um beijinho e boa semana.

17 outubro, 2006  
Blogger DarkMorgana disse...

Li o relatório...

Muitas vezes pensamos que passámos o limite, mesmo numa palmada no rabo dada na altura que nos parece certa ou num "se não fizeres isto, não tens aquilo"... E secalhar até passámos...
O que vale é que eu e a Pipoquinha não conseguimos estar zangadas uma com a outra muito tempo...

Mas há muitas formas de violência psicológica que é muitas vezes esquecida e que pode deixar mais "estragos" do que a tal palmada...
Eu lembro-me de alguma violência psicológica...e não, nem fiquei com "estragos" (considero-me uma pessoa equilibrada) e...nem sou uma pessoa violenta.

17 outubro, 2006  
Blogger Ana Almeida disse...

Olá Cleopatra.
Li o relatório de que fala. A violência contra as crianças é um problema muito grave. Um relatório como o da ONU põe toda a violência dentro do “mesmo saco” e esse parece-me ser uma das dificuldades do relatório. Não se pode comparar o episódio que descreve com as atrocidades que são cometidas contra as crianças em muitos lugares do mundo. Parece-me que a violência faz parte da natureza humana e que é impossível erradicá-la, mas devemo-nos esforçar por tentar integrá-la e utilizá-la de forma construtiva. O relatório da ONU condena toda a violência exercida sobre crianças, inclusivamente o simples estalo, mas as crianças precisam de limites e de sentir e perceber que os pais são mais fortes do que elas. A força dos pais é um garante de que serão protegidas em caso de necessidade. Se a criança consegue manipular os pais e os vê como fracos e submissos em relação ao seu próprio desejo fica com um problema complicado para resolver que é sentir que só pode contar consigo mesma e ela tem noção da sua fragilidade pelo que poderá crescer com um sentimento de insegurança base.
Este é um extremo, no qual as crianças fazem “gato sapato” dos pais e exploram o enorme poder da manipulação de da chantagem emocional. Percebem desde cedo que serem amadas lhes dá um poder enorme e que a pessoa que as ama está disposta a um sacrifício enorme para as manter felizes e satisfeitas. Posteriormente, nas relações amorosas adultas esta expectativa em relação ao objecto de amor gera dificuldades que podem tornar-se intransponíveis. A criança sente que não tem que fazer nenhum tipo de esforço para ser amada, basta-lhe existir e por isso não percebe a importância de ser amorosa, altruísta, simpática, cortês, etc.
No outro extremo temos as crianças que sofrem enormes atrocidades e que são “coisificadas/objectalizadas”, utilizadas como mercadoria, como objectos que podem ser postos ao serviço do benefício dos pais, patrões, irmãos, tios, etc. Neste extremo a criança cresce num mundo que eu qualificaria de psicopático e crescer nesse mundo pode gerar psicopatologias muito grave como a psicose, psicopatia, perturbações graves do humor e o atraso do desenvolvimento. São muito complexos os mecanismos psicológicos que se podem desenvolver na relação com a sujeição à violência e neste comentário não me é possível desenvolver este tema em profundidade.
Há ainda uma outra situação que me parece importante referir e que se prende com o efeito traumático. O trauma pode organizar-se de duas formas diferentes, pela sujeição a maus-tratos continuados e persistentes ou pelo choque associado ao inesperado. A primeira forma parece-me que será facilmente compreendida e ocorre em situações em que as crianças crescem em famílias violentas e são alvo de permanente terror, por exemplo, quando o pai é alcoólico e agride os filhos ou os sujeita a um regime educacional excessivamente rígido e punitivo; a segunda forma ocorre quando há uma mudança inesperada na forma de tratamento, por exemplo, uma criança que está habituada a ser acarinhada e mimada pelos pais, poderá sofrer um choque traumático se, por qualquer motivo, o pai ou a mãe inesperadamente se tornam violentos para com ela. O trauma organiza-se porque a criança é forçada a rever a imagem que tinha do pai ou da mãe e de repente percebe que a aquela pessoa em quem confiava pode agredi-la, fazer-lhe mal.
Este meu comentário já vai longo, pelo que ficarei por aqui, mas muito mais se poderia dizer e reflectir sobre esta questão. Aconselho também a leitura do post do Victor Lobão no seu blog http://apsicanalisenodiva.blogspot.com/

21 outubro, 2006  
Blogger Cleopatra disse...

Drª Ana Almeida
O seu comentário é precioso.
Merece uma postagem. Merece que voltemos ao assunto.
Lerei o que me indica.
Obrigada pela contribuição que generosamente nos ofereceu.

21 outubro, 2006  

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