Quando uma carta é muito mais do que isso
( Amor em fogo - Riva Liberato)Intermezzo.
Maria,
Parece que os prosadores lusos se queixam de dificuldades no que à escrita do sexo diz respeito. Problema deles, querida, não sou escritor. E por isso me atrevo a falar deste desejo que só foi obsceno enquanto secreto; e foi-o tempo de mais… O teu ventre. Ao qual não farei a injustiça de chamar liso, seria torná-lo um entre muitos. Recordo a sua doce ondulação, atravessada pela proa matreira e preguiçosa da minha língua, abandonado que foi o porto inundado da tua. Sentir esses olhos cravados no meu navegar entre bosque e montes, os dedos acariciando-me o cabelo em falso abandono, prontos a evitar que vagabundeie por países menos acesos. Descer. Exigir-te a prisão das coxas, antes de fazer desabrochar as margens desse rio, cujo caudal depende tanto do desmaio das tuas barragens como da vigília marota da minha boca. Ficar atento, sem me distanciar milímetro ou fantasia: os rins desprezando o solo, o gemido risonho, o grito abafado. Parar. O teu protesto, que esconde aprovação gulosa. De novo à estrada e aos degraus, até ao espasmo que me deixa maravilhado por te sentir longe, longe e mais perto do que nunca.Maria, tenho a certeza que o prazer das mulheres é o quebra-cabeças favorito de Deus.Boa noite.
Júlio Machado Vaz - in Murcon- aqui ao lado.
Etiquetas: cartas
2 Comentários:
interessante, você surpreende-me sempre em especial pelo que escreve mas muito mais pelo que sente
...Acho que não é só o prazer, tudo na mulher é um quebra cabeças de deus...
Ergui-me ao vento na tua procura
Fundi um abraço com o sol da tua ternura
Modelei o amor com as palavras mais belas
Curso de errante espírito na tua procura
Porque o pensamento é voo de milhafre
Aprisionado em gaiola de palavras
O infinito e o incomensurável
Volto ao encontro das tuas profundas mágoas
Bom fim de semana
Mágico beijo
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial