CleopatraMoon

Um Mundo à parte onde me refugio e fico ......distante mas muito próxima.

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Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “ A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. Apontamento: Gosto que pensem que sou parva. Na verdade não o sou. Faço de conta, até ao dia em que permito que percebam o quanto sou inteligente.

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sexta-feira, janeiro 27, 2006

Carta de um Contratado



Eu queria escrever-te uma carta amor
uma carta que dissesse deste anseio de te ver
deste receio de te perder
deste mais que bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...
.
Eu queria escrever-te uma cara amor uma carta de confidências íntimas
uma carta de lembranças de ti de ti dos teus lábios vermelhos como tacula
dos teus cabelos negros como dilôa
dos teus olhos doces como macongue
dos teus seios duros como maboque
do teu andar de onça
e dos teus carinhos que maiores não encontrei por aí...
.
Eu queria escrever-te uma carta amor
que recordasse nossos dias na capôpa nossas noites perdidas no capim
que recordasse a sombra que nos caía dos jambos o luar
que se coava das palmeiras sem fim
que recordasse a loucura da nossa paixão
e a amargura nossa separação...
.
Eu queria escrever-te uma carta amor
que a não lesses sem suspirar
que a escondesses de papai Bombo
que a sonegasses a mamãe Kieza
que a relesses sem a frieza do esquecimento
uma carta que em todo Kilombo outra a ela não tivesse merecimento...
.
Eu queria escrever-te uma carta amor
uma carta que te levasse o vento que passa
uma carta
que os cajus e cafeeiros
que as hienas e palancas
que os jacarés e bagres pudessem entender
para que se o vento a perdesse no caminho
os bichos e plantas compadecidos de nosso pungente sofrer
de canto em canto
de lamento em lamento
de farfalhar em farfalhar
te levasse puras e quentes as palavras ardentes
as palavras magoadas da minha carta
que eu queria escrever-te amor...
.
Eu queria escrever-te uma carta...
Mas ah meu amor, eu não sei compreender por que é,
por que é,
por que é, meu bem que tu não sabes ler e eu
- Oh! Desespero - não sei escrever também!
.
António Jacinto -

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2 Comentários:

Blogger DarkMorgana disse...

Lindo!!!
Este poeta...
escreveu algo que é...

ansiedade e fogo e alma...
carinho e doce e dôr...
saudade e medo e calma...
intenso e vivo e amor...

27 janeiro, 2006  
Blogger DarkMorgana disse...

Apesar de não fazer a mínima ideia do que é: tacula, dilôa, maconque, maboque, capôpa, todo o poema se apreende com toda a intensidade que tem...

28 janeiro, 2006  

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