Só porque esta noite chove lá fora e são 2h28 e eu continuo teimosamente a tentar trabalhar .
Os segredos de amor têm profundezas difíceis de alcançar,
tal como a chuva que hoje cai e nos molha na calçada a face,
nós olhando triste uma saudade imensa
num corpo de mulher metamorfoseada.
Sou demasiado são para me esquecer
do tempo apaixonado que vivi nos teus braços
e bebo no teu um coração meu
adormecido no mar do meu cansaço
ou no rio das minhas secas lágrimas.
Tardará muito, se é que as horas contam,
ver-te, de novo, perto de mim, longe,
mas eu espero, sou paciente e, no meu canhenho, aponto,
um dia a menos, o da tua chegada.
E assim me fico, rente ao horizonte,
abrigado da chuva numa cabine telefónica,
e ligo para ti - que número? - ninguém responde
do oceano que avança e retrai colinas,
o vulto de um navio, tu na amurada
acenando um lenço, ó minha pomba branca!...
Como se tempestade houvesse e um naufrágio de chuva
- as vidraças escorrem, as árvores liquefazem-se...-
escurecendo os teus cabelos,
ou, se preferes, a minha boca neles
carregadas de ilhas, de nocturnos perfumes
que ateiam lumes, ó minha idolatrada,
na minh'alma inquieta um outro bater d'asas
ou num jardim um leito de flores!...
Junho de 1977
RUY CINATTI
Os segredos de amor têm profundezas difíceis de alcançar,
tal como a chuva que hoje cai e nos molha na calçada a face,
nós olhando triste uma saudade imensa
num corpo de mulher metamorfoseada.
Sou demasiado são para me esquecer
do tempo apaixonado que vivi nos teus braços
e bebo no teu um coração meu
adormecido no mar do meu cansaço
ou no rio das minhas secas lágrimas.
Tardará muito, se é que as horas contam,
ver-te, de novo, perto de mim, longe,
mas eu espero, sou paciente e, no meu canhenho, aponto,
um dia a menos, o da tua chegada.
E assim me fico, rente ao horizonte,
abrigado da chuva numa cabine telefónica,
e ligo para ti - que número? - ninguém responde
do oceano que avança e retrai colinas,
o vulto de um navio, tu na amurada
acenando um lenço, ó minha pomba branca!...
Como se tempestade houvesse e um naufrágio de chuva
- as vidraças escorrem, as árvores liquefazem-se...-
escurecendo os teus cabelos,
ou, se preferes, a minha boca neles
carregadas de ilhas, de nocturnos perfumes
que ateiam lumes, ó minha idolatrada,
na minh'alma inquieta um outro bater d'asas
ou num jardim um leito de flores!...
Junho de 1977
RUY CINATTI
7 Comentários:
Pelos vistos somos dois escravos do trabalho, eu fiquei um pouco até mais tarde e eram 4:10 quando fui para "vale de lençóis" e a chuva não havia meio de abrandar!
Um beijo
Fernando
Confesso que, cheguei a pensar serem tuas as palavras...
Fernando, sabe tão bem ouvir a chuva.
Narrador, confesso que quando as leio quase as sinto minhas. Vaidades!
Por vezes sabe bem ouvir a chuva no silêncio da noite... essa musicalidade que nos entorpece...
Já não me lembro aquando da última vez...
Jinhos
Tem piada, a essa hora também estava a ler, e a ouvir a chuva a cair aqui em Telheiras...
A chuva... quem a sabe escutar pode estar em uníssono...ou encontram outra palavra?
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