Poetisas Portuguesas ( ou quase )
Lua Adversa.
Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vem,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu....
CECÍLIA MEIRELES
*
**
JARDIM DE INVERNO
Pedaço de qualquer coisa
Que nos falta...
Rio de leito morno...
Pássaro que pia e poisa,
Esperando a lua, noite alta!.
--- Chega o inverno.
O desalento da friagem,
Injúrias de um inferno,
As ilusões...
Sente-se a louca viragem,
Morrem tristes as paixões,
Vem a mágoa.
Sofrendo, o corpo em lancidão
Espera a morte...
Mitiga a sede na água
Que há no sangue do coração
E ainda verte por tal sorte.......
Volta a esperança.
Uma nova vida vem,
Aliviar o inferno!
E com o amor dessa criança,
A avó sente que ainda tem,
Um lindo Jardim de Inverno....
.
Lisboa, Fevereiro de 1977.
Esmeralda Gonçalves
**
NAS ASAS DE UMA GAIVOTA
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Nas asas de uma gaivota
está a calma de um sol poente
estão vidas pintadas a pastel
está uma nostalgia quente
.
Nas asas de uma gaivota
está o cheiro vivo a maresia
estão as manhãs frescas de luz
está a azáfama crescente do dia
.
Nas asas de uma gaivota
estão Alfama e a Madragoa
está o pregão da varina
está o fado, está Lisboa
.
Nas asas de uma gaivota
estão intermináveis danças
está a liberdade urgente
estão sonhos, estão esperanças
.
Nas asas de uma gaivota
está o beijo, a ansiedade
a despedida apertada
está o olhar, está a saudade
.
MCB 06
http://darksidemorgana.blogspot.com/
*
BEBIDO O LUAR
Bebido o luar,
ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.*
**
*
Sophia de Mello Breyner Andresen
*
6 Comentários:
Boa poesia, para se entrar no fim de semana com outro ânimo, já que o tempo não ajuda.
Tem um óptimo fim de semana.
Adoro este poema...
Quanto honra euzinha, a humilde MCB, ter um poema postado ao lado de poemas lindíssimos de poetisas como Sophia de Mello Breyner Andersen e Cecília Meireles!!!
Já vi que gostaste mesmo das asas da "minha" gaivota!!!
Obrigado!
Bem... Isto é que foi "postar" belas poesias e lindas fotos. Destaco a Cecília Meireles e a "tuzinha" humilde do outro blog.
A Cecília Meireles, para ser portuguesa, só lhe falta não ser brasileira...
É verdade anónimo... Mas que falava o Português melhor que muitos Portugueses e o escrevia (e escreve porque os poetas não morrem ) melhor que outros... também é verdade.
E não era só por ser professora.
Para mim...tinha de ser portuguesa.
Afinal, Vexa não sabe nada que os outros não saibam!!
Bjinhos.
E depois quem foi para o Brasil,... veja o nome dos pais dela, foram os portugueses.
Há nacionalidades e nacionalidades.
Os brasileiros já lá estavam e não tinham estes nomes, né cara?
AFINAL provavelmente não lhe falta assim tanto para ser Portuguesa!
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