CleopatraMoon

Um Mundo à parte onde me refugio e fico ......distante mas muito próxima.

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Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “ A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. Apontamento: Gosto que pensem que sou parva. Na verdade não o sou. Faço de conta, até ao dia em que permito que percebam o quanto sou inteligente.

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domingo, fevereiro 12, 2006

Cartas de Guerra


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Vocês já leram as cartas de guerra do António?
Do Lobo Antunes?
Confesso que é o primeiro escrito dele que consegui devorar, que li num ápice, que me deliciou...
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Não são só cartas de guerra, nem são cartas de amor...
São cartas de um homem que nos transmite todo o seu sentir num local estranho, numa terra que não é a sua e, que, para sobreviver, se vai agarrando à única imagem que o faz feliz: a da mulher que ama e deixou em Portugal Continental.
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Quase todo o cenário daquilo a que chamávamos o Ultramar, está naquelas cartas...
Todo o calor húmido de um clima, todo o rebentar de trovoada que cai impiedosa com água e água e água......
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Todo o sofrimento de quem não sabe viver aquela vida, que vai aprendendo aquela civilização e que nunca se adapta a um regime militar porque a alma não lhe dá espaço...
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E nas cartas que vai escrevendo desesperadamente todos os dias áquela que ama, porque é o único ponto de ligação com o que o faz feliz, porque é a única razão para suportar os medos nocturnos, os suplícios diurnos, os choques de civilizações mais ou menos hostis,... vai desenrolando sob os olhos do leitor um cenário de guerra que foi o dos nossos militares... um cenário de guerra que conheceu de perto ....
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Tenho para mim que quem escreve deve fazê-lo solto de qualquer fim ou objectivo ou vontade alheia... não se escreve pelos outros, nem para os outros avaliarem..
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Tudo o que se escreve e vem do nosso eu, naturalmente, de forma solta, sem intelectualismos literários... prende... chama,... porque despe a alma de quem escreve....
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E as almas não são muito diferentes umas das outras...
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Talvez por isso... devorei e voltarei a devorar este livro, todas as vezes que quiser rever um passado que não vivi a não ser nos aérogramas que chegavam a minha casa era eu uma miúda ; uma guerra de que não tinha senão o som e as imagens das mensagens de Natal dos nossos militares, enviadas pela RTP, rapazes que quase não sabiam falar português, mas partiam para um confronto militar onde se gritava "Angola é nossa!"... e não era deles... nem nossa.
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E quando o autor escreve. "Adoro-te. repete esta palavra até ao fim do papel", é como se estivesse a dizer...
Aqui estou, por vezes doente, todos os dias, onde vejo atrocidades, tento salvar os vivos e vejo morrer os vivos e, vejo seres mutilados, e tenho medos, e caminho pelo mato a toda a hora, e levanto vôo em aviões que ameaçam cair a qualquer momento, e tenho calor, e chove, e gostam de mim, e não gostam... e tenho saudades e morro de medo de morrer de noite enquanto durmo... Não deixes de me ler... Não quero morrer ao Domingo...
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Leiam... Não vão deixar de o ler nem a ele, nem aquilo que foi um pouco da guerra do Ultramar...
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Género: Biografia/autobiografiaIdioma: PortuguêsAno de Publicação da 1ª Edição: 2005Ano de Publicação da Edição Corrente: 2005Local de Publicação: LisboaAno de Compra: 2005Páginas: 431ISBN: 972-20-2898-7
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3 Comentários:

Blogger DarkMorgana disse...

Não li, mas de certeza que vou ler.

19 fevereiro, 2006  
Blogger Branca disse...

este não li...dele já li outros e aconselho vivamente as crónicas...
boas leituras

19 fevereiro, 2006  
Blogger Cleopatra disse...

Voltar a ler

11 fevereiro, 2008  

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