O AMOR
(...)
"Nessa tarde, decidi que não iría gastar um cêntimo que fosse e sentía já no palato o gosto do camarão e da imperial de gola alta, mesmo ali ao lado, na Trindade.
Dei as "boas tardes" a despedir-me, ele sussurou:
- Tenho estado à sua espera...chegou uma coisinha que guardei para si.
Virou-me as costas e agachou-se para apanhar uma mala que estava encostada junto a um louceiro. Calcou o fecho metálico da mala de couro ensebado e retirou um pequeno livro apontando-o a mim.
Um rubor tomou-me e a primeira reacção foi rejeitar tal oferta, mas ele experiente olhou-me com os seus minúsculos olhos azuis e insistiu:
- Veja. Abra e veja.
Tomei o livro nas mãos: sem capa, a lombada exibindo as linhas de cosedura, os cantos das folhas encarquilhados, tudo era uma lástima.
Olhei o alfarrabista num tom de "está a gozar comigo?!" mas ele, agora sorrindo pela primeira vez em todos os anos que ali fora, amparou-me as mãos e agitando meigamente, disse "eu ajudo" e abriu o livro escachando-o na pagina 18.
- Leia. E depois diga-me.
Eu li.
" Acho mesmo que esta coisa que se sente quando se ama, mais não é do que um salto. Um salto que se faz, ficando suspenso em frente ao outro. Se os corpos se tocarem ou um deles voltar a sentir a dureza do chão é porque o amor esfriou, esvaiu-se até, pois desviar o olhar desse fio invisivel é o mesmo que contar que outro amor o laçou. O amor progride enquanto se mantiverem nesse cosmos sem gravidade, essa alma unica em suspensão".
Fiquei sem saber o que dizer. Era uma nota escrita a lápis, mal afiado, em rodapé. Não havía página 19 ou 20, seguía para a 21 com um texto impresso sobre mercantilismo, sem registo de autor ou editora, parecendo tratar-se aliás, de um exemplar único dactilografado como um trabalho mal apurado de um estudante cábula.
Olhei para o alfarrabista.
- E agora?
- Agora já sabe o segredo, já sabe o que é o amor!
- Quanto custa? Vou levá-lo!
- Não está à venda. É só para mostrar. Não a todos, que nem todos entendem...
- Porquê a mim, então...
- Tente não pôr os pés no chão... Boa tarde. Até à próxima. "
Dei as "boas tardes" a despedir-me, ele sussurou:
- Tenho estado à sua espera...chegou uma coisinha que guardei para si.
Virou-me as costas e agachou-se para apanhar uma mala que estava encostada junto a um louceiro. Calcou o fecho metálico da mala de couro ensebado e retirou um pequeno livro apontando-o a mim.
Um rubor tomou-me e a primeira reacção foi rejeitar tal oferta, mas ele experiente olhou-me com os seus minúsculos olhos azuis e insistiu:
- Veja. Abra e veja.
Tomei o livro nas mãos: sem capa, a lombada exibindo as linhas de cosedura, os cantos das folhas encarquilhados, tudo era uma lástima.
Olhei o alfarrabista num tom de "está a gozar comigo?!" mas ele, agora sorrindo pela primeira vez em todos os anos que ali fora, amparou-me as mãos e agitando meigamente, disse "eu ajudo" e abriu o livro escachando-o na pagina 18.
- Leia. E depois diga-me.
Eu li.
" Acho mesmo que esta coisa que se sente quando se ama, mais não é do que um salto. Um salto que se faz, ficando suspenso em frente ao outro. Se os corpos se tocarem ou um deles voltar a sentir a dureza do chão é porque o amor esfriou, esvaiu-se até, pois desviar o olhar desse fio invisivel é o mesmo que contar que outro amor o laçou. O amor progride enquanto se mantiverem nesse cosmos sem gravidade, essa alma unica em suspensão".
Fiquei sem saber o que dizer. Era uma nota escrita a lápis, mal afiado, em rodapé. Não havía página 19 ou 20, seguía para a 21 com um texto impresso sobre mercantilismo, sem registo de autor ou editora, parecendo tratar-se aliás, de um exemplar único dactilografado como um trabalho mal apurado de um estudante cábula.
Olhei para o alfarrabista.
- E agora?
- Agora já sabe o segredo, já sabe o que é o amor!
- Quanto custa? Vou levá-lo!
- Não está à venda. É só para mostrar. Não a todos, que nem todos entendem...
- Porquê a mim, então...
- Tente não pôr os pés no chão... Boa tarde. Até à próxima. "
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Postado por Flor da Palavra
(PS_ É por isso que...não ponho os pés no chão.
Etiquetas: nos meus olhos
4 Comentários:
O Amor é um ser tão incompreendido.
Uns julgam-no controlador, outros absorvente, outros causa de muitas doenças, outros nunca se cruzaram com ele.Entender a mensagem do amor não é mesmo para todos.Alguns só entendem a do sexo.
Tcheee....Fique de boca aberta! que espectacular descrição do Amor!
La está, não é para qualquer um, mas tão so para quem tem capacidade para o decifrar e sentir..
Beijos
Este merece, inegavelmente, um oscar!
O Amor vive acima da cintura....hummm parece-me que isto está a complicar a questão...
Não era bem isso..
O Amor....vive nos olhos...
É só se vê bem com o coração...mas os olhos ajudam muito..
Agora a sério, ou vivemos nas nuvens c quem amamos a ponto de nada nos afectar, nem birrinhas, nem beicinhos, nem chatices, ou pomos os pés no chão e vamos embora...Depende ...tudo depende de ainda existir amor ou não.
Aí perdeu-se a magia...Depois é dificil reencontrá-la..
Mas é como diz a Carla Bruni...
Não ponha os pés no chão!
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