O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá ( continuação)
"Em torno era a Primavera, o sonho de um poeta. O Gato Malhado teve vontade de dizer algo semelhante à Andorinha Sinhá. Sentou-se usou os bigodes, apenas perguntou:
— Tu não fugiste com os outros?
-Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns covardes... Tu não me podes alcançar, não tens asas para voar, és um gatarrão ainda mais tolo do que feio. E olha lá que és feio...
— Feio, eu?
O Gato Malhado riu, riso espantoso de quem se havia desacostumado de rir, e desta vez até as árvores mais corajosas, como o Pau Brasil — um gigante — estremeceram.
— Tu não fugiste com os outros?
-Eu? Fugir? Não tenho medo de ti, os outros são todos uns covardes... Tu não me podes alcançar, não tens asas para voar, és um gatarrão ainda mais tolo do que feio. E olha lá que és feio...
— Feio, eu?
O Gato Malhado riu, riso espantoso de quem se havia desacostumado de rir, e desta vez até as árvores mais corajosas, como o Pau Brasil — um gigante — estremeceram.
Ela o insultou e ele a vai matar, pensou o velho Cão Dinamarquês.
O Reverendo Papagaio — reverendo porque passara uns tempos no seminário onde aprendera a rezar e decorara frases em latim, o que lhe dava valiosa reputação de erudito — fechou os olhos para não testemunhar a tragédia.
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Por duas razões: por ser emotivo, não lhe agradando ver sangue, menos ainda de andorinha tão formosa, e por não desejar servir como testemunha se o crime chegasse à justiça, maçada sem tamanho, tendo de decidir entre dizer a verdade e arcar com as conseqüências da ira do Gato Malhado — processo por calúnia, umas bofetadas, o bico arrancado, quem sabe lá o quê — ou mentir e ficar com fama de covarde, de cúmplice do assassino. Situação difícil, o melhor era não testemunhar.
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Em troca rezou pela alma da Andorinha Sinhá, ficando em paz com a sua consciência, uma chata cheia de exigências.
A própria Andorinha Sinhá sentiu que exagerara e, por via das dúvidas, voou para um galho mais alto onde ficou bicando as penas num gesto de extrema faceirice.
O Gato Malhado continuava a rir, apesar de se sentir um tanto ofendido. Não porque a Andorinha o houvesse tachado de mau e sim por tê-lo chamado de feio, e ele se achava lindo, uma beleza de gato. Elegante também.
— Feíssimo... — reafirmou lá de longe a Andorinha.
— Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.
—Feio e convencido!
(...)
— Não acredito. Só uma criatura cega poderia me achar feio.
—Feio e convencido!
(...)
Mas a Andorinha, enquanto a retiravam, ainda gritou para o Gato:
— Até logo, seu feio...
Foi assim, com esse diálogo um pouco idiota, que começou toda a história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá.
— Até logo, seu feio...
Foi assim, com esse diálogo um pouco idiota, que começou toda a história do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá.
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Em verdade a história, pelo menos no que se refere à Andorinha, começara antes.
Um capitulo inicial deveria ter feito referência a certos atos anteriores da Andorinha.
Como não posso mais escrevê-lo onde devido, dentro das boas regras da narrativa clássica, resta-me apenas suspender mais uma vez a ação e voltar atrás.
.É, sem dúvida, um método anárquico de contar uma história, eu reconheço. Mas o esquecimento pode ir por conta do transtorno que a chegada da Primavera causa aos gatos e aos contadores de histórias. "
( Continua ...)
Etiquetas: sorrisos
3 Comentários:
"Continua..."
Esperemos que sim!
"...É, sem dúvida, um método anárquico de contar uma história..."
(continua)
continua...
Continua pois. Vão ver!
Ou melhor, leiam o livro!
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