CleopatraMoon

Um Mundo à parte onde me refugio e fico ......distante mas muito próxima.

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Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “ A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. Apontamento: Gosto que pensem que sou parva. Na verdade não o sou. Faço de conta, até ao dia em que permito que percebam o quanto sou inteligente.

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segunda-feira, março 05, 2007

Mas resolvam!!! Sabem como? Baixem a imputabilidade para os 14 anos!!!




A DEVIDA COMÉDIA
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Criancinhas
A criancinha quer Playstation.
A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato.
A gente deixa.
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A criancinha berra porque não quer comer a sopa.
A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas.
Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas.
Coca-Colas, às litradas.
A gente olha para o lado e ela incha.
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A criancinha quer camisola adidas e ténis nike.
A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.
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A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde.
A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante.
A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce.
Faz-se projecto de homem ou mulher.
Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária.
E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
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A criancinha já estuda.
Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás.
Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto.
Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
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A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal.
A rebeldia é de trazer por casa.
Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».
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Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo.
A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada.
Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.
Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora.
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Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
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A criancinha cresce.
Cresce e cresce.
Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles.
Provavelmente, não terá um emprego.
«Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».

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Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha?
Pois não, bem sei.
Estou apenas a antecipar-me.
Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo.
E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.

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Miguel Carvalho
Quinta, 1 Março 2007

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6 Comentários:

Blogger Ni disse...

Descrição extremamente fiel à realidade.
Muito, muito bom, este texto!
Não só pela crítica social pertinente, como também pela capacidade de escrita.
Obrigada por partilhares.

Ni*

05 março, 2007  
Blogger ALG disse...

Não, Cleopatra, não se antecipou porque esta é a realidade dos nossos dias... infelizmente.
Como pai e como docente do ensino secundário lido com estas realidades diáriamente, vendo esta geração a transformar-se num futuro difícil, muito difícil e o pior de tudo é a sensação de impotência no que concerne às tentativas de mudança deste estado de coisas.
E somos muito culpados, por diversas razões!
bjs

06 março, 2007  
Blogger Javier disse...

Jejeje, vaya foto.

Supongo que te preguntarás si no tengo más billetes de Portugal. Pues no tengo muchos, la verdad, solo 4 y el que he puesto es elúnico que se atiene a las normas de la colección especializada en náutica. Espero en un futuro adquirir los últimos que salieron en Portugal.

Sí, el paso de Drake es impresionante, pero también divertido XD

06 março, 2007  
Blogger Unknown disse...

Soberbo...

Quanto à questão que deixaste no meu blog... manda-me e-mail para lucialourenco.83@gmail.com que eu depois envio-te o texto que queres publicar!! Fico muito contente por teres gostado!!

Beijo

06 março, 2007  
Blogger C.M. disse...

É a triste realidade a que chegámos, Cleo! Por via da desumanização da nossa sociedade e da completa perda de valores morais!

06 março, 2007  
Blogger LUA DE LOBOS disse...

retrato fiel do que já se passa mesmo... e não se vê solução à vista.
xi
maria

07 março, 2007  

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