CleopatraMoon

Um Mundo à parte onde me refugio e fico ......distante mas muito próxima.

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Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “ A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. Apontamento: Gosto que pensem que sou parva. Na verdade não o sou. Faço de conta, até ao dia em que permito que percebam o quanto sou inteligente.

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terça-feira, março 06, 2007

Imputabilidade aos 14?



O tema é absolutamente pertinente quer pela proposta que foi feita, quer pelo perfil de jovens que vamos vendo aparecer nos nossos Tribunais, quer pela evolução que as mentalidades e comportamentos juvenis vêm tendo e, demonstram cada vez mais conhecimento e noção do que é ou não permitido numa sociedade plural.
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Mas.......

O facto de o número de crimes cometido por menores de 14 e 15 anos ser elevado, não justifica nem implica que a imputabilidade "venha " para os 14 anos.

Na verdade, não é através do imputar a um menor dessa idade um grau de culpa passível de julgamento em Tribunal criminal , que vai resolver, ou travar a criminalidade.
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Tenho e sempre tive para mim, que os comportamentos desviantes são fruto de sociedades desestruturadas.
Sociedades económicamente frágeis e culturalmente doentias.
Sociedades em conflito de valores.
Não entendo que, numa sociedade como a nossa, em que tais conflitos são diários ( é facto notório ) imputar a um menor de 14, 15 anos um grau de culpa suficiente para o sentar como arguido numa sala de Tribunal, é talvez torná-lo num "adulto" em vias de delinquência crescente e galopante.
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O ideal seria começar pelo antes.
Nunca pelo depois.
Que pretendo eu dizer com isto??
Respondo com perguntas:
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Os nossos jovens têm famílias atentas e presentes?
As nossas famílias podem ser atentas e presentes?
O nosso nível económico , social, cultural, permite-nos estar atento e presente?
Onde falha o sistema?
Nos menores que devem ser imputáveis ou, na sociedade, no sistema, que não lhes ensina como "ser imputável"?
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Será que o facto de os tornar imputáveis aos 14- 15 anos, não é uma forma de nos "descartarmos" das nossas responsabilidades de imputáveis?
Não será uma forma de demonstrar que o nosso próprio sentido de imputabilidade está um pouco diminuído?
Tenho uma filha com 13 anos e um filho com 9 anos.
Vejo-me e desejo-me para os acompanhar e para lhes transmitir valores.
Morro de sentimentos de culpa porque sinto o meu tempo absorvido pelo trabalho, pelas leis que levo aos outros, pelos valores que tento transmitir na sala de audiências e que muitas vezes não tenho tempo de transmitir em casa.
Que faço??!
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Cada vez mais nos exigem que sejamos bons profissionais e, cada vez mais nos tentam a ter uma vida económicamente estável, acima da média de preferência, e cada vez mais, temos um país mais pobre em todos os sentidos...
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E isto acontece com pais de todos os níveis sociais e económicos.
E são os nossos menores que vão pagar esse preço?
São eles os responsáveis pelas nossas "inimputabilidades"?!
Pelos nossos egoísmos, pelo nosso virar de costas ?
E que tal se as responsabilidades dos pais se tornassem mais demarcadas?
Se os pais fossem mais vezes chamados a responsabilizarem-se...
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Pois , os pais..
Os pais que vivem entre o acompanhamento que não podem dar, a necessidade de garantir a sobrevivência do agregado familiar e o desconhecimento do que fazem os filhos , ...por aí... "sem rei nem roque" como diria a minha avó.
Mas também há os pais com uns umbigos do tamanho de um buraco negro. Ah pois há!!
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Não me imaginem conservadora, até porque o não sou, mas é no núcleo familiar e social em que se vive que se constrói a personalidade em 80% dos casos.
Os valores apreendem-se aí.

Precisamos de espaço, de tempo, de meios para ser pais, para ser avós, para ser família.
Dizem alguns que o furto é praticado por carências afectivas.
E não me refiro ao furto de chocolates, bombons ou colheradas de açúcar, refiro-me ao furto na rua de TMs , de dinheiro, de "o que vier à mão", com armas brancas, em grupo ou de esticão.... que já é roubo!!!...Pois....
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É certo que em termos legais houve uma ligeira preocupação com os menores de 16 anos.A partir de Janeiro de 2001, as novas leis tutelares dividiram-se entre a Lei Tutelar Educativa (Decreto Lei n.º 166/ 99 de 14 de Setembro) que define o que se faz aos menores delinquentes entre os 12 e 16 anos e a Lei dos Menores em Perigo (Lei n.º147/99 de 1 de Setembro).
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Agora temos colégios para menores que cometem crimes, separados dos menores que estão acolhidos.
Mas arrepia e causa-me repulsa, sinceramente ( e há muitos anos ) as instituições de acolhimento, frias, impessoais, despersonalizadas, castradoras...
Desculpem. Sempre pensei assim.
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Se os menores lá caiem por abandono afectivo, lá vão continuar em abandono afectivo.
Será que o Estado apenas tem a responsabilidade de criar estas instituições?
E a responsabilidade de criar condições?
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Na minha comarca os jovens que praticam crimes com menos de 16 anos, vivem ao abandono na rua, sem horário escolar certo, em grupos- gangs- que se juntam que se julgam heróis, que "engendram" os maiores disparates, porque chegam a casa e os pais dormem mortos de cansaço, ou bêbados, ou nem pais têm.
São oriundos de países que não é este, vivem com tios e avós, não têm raízes.....
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Falava-se há dias em pagar às mães que querem ter filhos.
QUEREM, por amor, por querer ter filhos , em contraponto ao que se paga, ou vai pagar, às mães que não os querem ter.
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Será que o Estado não podia pensar em pagar, quer à mãe ou ao pai, para investir no seu filho dar provas de rendimento escolar... em vez de pagar mais tarde para que ele ingresse numa instituição ou numa prisão??
Penso sinceramente que passar a imputabilidade de um menor para os 14 anos, é demitirmo-nos e ao Estado, da obrigação do dever de educar os nossos jovens.
Por agora já falei muito... E só vi uma parte da questão.
Há muito a dizer e a discutir...
Fico à espera de ler outras ideias... outras razões, outras visões...
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ACCB
Fevereiro de 2007
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PS:_
Em Hong Kong , a imputabilidade "vem" aos 7 anos!
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7 Comentários:

Blogger Isabel Filipe disse...

Tens toda a razão.
Parabéns pelo Post de que gostei imenso.

Vim conhecer-te e agradecer-te a tua visita lá ao meu cantinho. Espero que tenhas gostado e que voltes mais vezes. a porta está aberta.
eu ... gostei de aqui vir e vou voltar certamente....

beijinho e um bom dia

07 março, 2007  
Blogger GTL disse...

Como cidadã, advogada e formadora em maus tratos infantis tenho várias opiniões e ao mesmo tempo nenhuma. Não vai resolver o problema, mas será um mal necessário? Tenho dúvidas.

MDB

07 março, 2007  
Blogger M@nza disse...

O trailer do fime anterior retrata um pouco a realidade do mundo actual.
O mundo do século XXI onde as crianças têm tudo, ou quase tudo, à sua disposição "... A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente...", onde as escolas e agora os decisores da educação, vulgo professores, que me desculpem, mas limitam-se a "despejar" os métodos de ensino, muitas vezes sem considerar o "background" do aluno, se compreendeu o que acabou de ser falado e sem ter em conta o ambiente em que o aluno está inserido.
Métodos esses que estão constantemente a mudar, por culpa dos orientadores da Educação (Ministério da Educação) (veja-se o caso da disciplina de português que apesar de já ter sido "imposta" aos alunos e professores a TBLS (vejam aqui: http://www.destakes.com/search/tlebs) continuam a existir grandes dúvidas sobre este conceito, causando aos educandos confusão mental.
Por favor organizem-se.
Também estou de acordo que os pais deveriam ou melhor devem ser os primeiros na lista da educação dos seus filhos, mas como a cleo refere a sociedade exige de mais e não lhes dá "espaço" para os educar.
Eu tenho consciência que o tempo que os meus filhos passam com os Pais é pouco ou escasso (3 a 4 horas - desde as 18 até às 21, máximo 22h altura em que se vão deitar, inclui o jantar) [as restantes 18h passam-nas a dormir (8 a 9h)e na escola (+/- 10h)
As escolas também fazem parte desse processo de educação e o que verificamos hoje em dia é que elas são responsáveis (em cerca de 60%)pelo início de muitas delínquências pela falta de profissionalismo de alguns professores que se limitam a debitar "matéria" e não a "educar" com matéria.
É apenas a minha opinião e sei que existem "ainda" bons professores por aí que não têm o apoio necessário para "educarem" os educandos.
Excelente a oportunidade desta postagem cléo.
um grande beijo

07 março, 2007  
Blogger Brandybuck disse...

É primeiro na família, depois na escola que se educam e se formam as crianças. É precisamente na família e na educação que cada vez menos se aposta.
A prazo vão-se vendo os efeitos e não me parece que baixar a imputabilidade seja a solução.
Como não é solução deixar passar todos os alunos, para acabar com o insucesso escolar.
Como não é solução deixar as crianças fazerem tudo o que lhes apetece para diluir a nossa culpa de não lhes prestarmos o apoio necessário.

Muito bom artigo!

Um beijo

07 março, 2007  
Blogger ALG disse...

É um tema complexo e ao mesmo tempo interessante, penso que não se resolve as questões de fundo ao diminuir a idade da imputabilidade, é a meu ver mais uma medida que reflecte o reconhecimento de que o Estado falhou numa área fulcral.
A nossa sociedade está carente de valores e é esta nova geração que reflecte isso mesmo, vive-se a correr sem tempo para nada, o consumismo impera e os objectivos de vida são apenas o do momento.
Como pai sinto-me, muitas vezes, impotente para explicar o meu ponto de vista a uma das minhas filhas (14 anos) sobre questões que a ela não lhe dizem rigorosamente nada, como docente sinto o mesmo em relação à maioria das minhas alunas, os seus interesses e valores são completamente diferentes.
Concordo que nós pais deveríamos ter mais tempo para acompanhar os nossos filhos e que o Estado deveria investir mais na educação dos menores para serem adultos mais responsáveis logo mais cumpridores em todas as áreas das suas vidas.
Actuar pelo lado da repressão é sempre o mais fácil da questão!
bjs

09 março, 2007  
Blogger Apache disse...

Quanto a diminuir a idade da imputabilidade, sinceramente não tenho opinião formada, acho que não tenho competência (técnica) para decidir.
Quanto ao papel educador da escola, é desejável mas quase impossível. Se os pais se queixam que têm pouco tempo para passar com os filhos, que dirão os professores? Cada professor passa 90 minutos por semana com um grupo de 30 alunos e um programa extensíssimo da sua disciplina para cumprir. Pouco mais lhe resta que tentar que os alunos aprendam a saber estar numa sala de aula e até isso é cada vez mais difícil. Cada aluno tem 10 ou mais professores em cada ano, os (poucos) valores que cada um transmite são diferentes de professor para professor e diferentes dos que são transmitidos em casa. O choque geracional é cada vez mais acentuado. Os miúdos formam cada vez mais cedo a sua personalidade e na maré de diferentes valores que lhes são apresentados, ficam confusos e optam pelos deles, pelos dos colegas ou pelos que lhes transmitem "os morangos" e "as Floribelas".
Os professores estão cada vez mais divididos, já nem quanto às metodologias e pedagogias se entendem quanto mais quanto aos valores a transmitir. Aliás, até entre o real e a ficção alguns professores começam a ter dificuldade em distinguir.

Bom fim-de-semana!

10 março, 2007  
Blogger claudia pinheiro disse...

BOA NOITE. EU ESTAVA FAZENDO UMA PESQUISA SOBRE ESTA ASSUNTO E ADOREI SEU DEPOIMENTO. ERA O QUE EU ESTAVA ATRAS SOBRE A IMPUTABILIDADE. VC ESTA DE PARABENS PELAS SUAS PALAVRAS.

06 novembro, 2008  

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