CleopatraMoon

Um Mundo à parte onde me refugio e fico ......distante mas muito próxima.

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Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “ A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. Apontamento: Gosto que pensem que sou parva. Na verdade não o sou. Faço de conta, até ao dia em que permito que percebam o quanto sou inteligente.

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domingo, dezembro 04, 2005

4 de Dezembro de.....2005 - 25 anos


"Estávamos em plena campanha eleitoral, a primeira da AD (1979).
Organizada sobretudo pela famosa máquina do aparelho do PSD, fez os três líderes da coligação percorrerem Portugal de lés a lés, incluindo Açores e Madeira, com uma média de 20 pequenos ou médios comícios por dia, de localidade em localidade, e acabando sempre à noite num grande comício em cada capital de distrito.
Os comícios - como por toda a parte nos era dito - eram os maiores de sempre, em cada terra, em eleições legislativas.
Não admira antes, o PSD juntava 24% do eleitorado e o CDS 16%; agora, somávamos à partida 40% e acabaríamos acima dos 45% Era um mar de gente!
E que entusiasmo, que alegria, que esperança naqueles milhares de rostos!
Mais ou menos a meio da campanha, Francisco Sá Carneiro aproveita uma pausa para nos dizer, ao Gonçalo Ribeiro Teles e a mim, que precisava de conversar connosco a sós, mas não sabia quando, pois tínhamos os dias completamente cheios.
Aí, eu sugeri que no dia seguinte - estando previsto [uma pausa de] cerca de uma hora - poderíamos ir os três sozinhos no meu carro, oferecendo-me eu para guiar.
Eles concordaram.
A meio da manhã lá nos metemos os três na viatura, e comigo ao volante, iniciámos a viagem - o Gonçalo e eu um tanto ou quanto intrigados.
Qual seria o assunto?
Depressa, porém, se dissipam as nossas dúvidas, Sá Carneiro expõe-nos, com a maior frontalidade, o seu problema de consciência
**
- Quero colocar-lhes aqui uma questão delicada, antes que seja tarde.
A campanha está a correr bem, as sondagens são-nos favoráveis, tudo parece pois encaminhar-se para a vitória da AD com maioria absoluta.
Se assim for, seremos chamados a formar Governo, e para tanto teremos de indicar um primeiro-ministro.
No meu partido, todos acham que devo ser eu.
Mas eu, pela parte que me toca, tenho duas perguntas a fazer-lhes concordam vocês, e concordam os vossos partidos, que eu seja a pessoa a indicar para tal cargo?
E não vêem dificuldades na minha escolha, decorrentes da situação 'conjugal' em que vivo?
Após uma breve pausa, continuou-
-Como sabem, há cerca de três anos que estou separado da Isabel, minha mulher. Já lhe pedi várias vezes o divórcio, mas a lei não mo dá.
Segundo a lei actual (que eu não deixarei mudar por minha causa), só ao fim de cinco anos de separação é que é possível obter o divórcio sem o consentimento do outro cônjuge.
Entretanto, encontrei a Snu Abecassis, que vocês conhecem (ela andava sempre connosco na campanha), apaixonámo-nos um pelo outro e decidimos viver juntos.
Não é uma aventura passageira é uma relação duradoira.
Considero-a para todos os efeitos minha mulher.
Mas a situação é delicada.
Não será decerto aceite por toda a gente, em especial nas bases dos nossos três partidos, algumas bastantes conservadoras.
Que lhes parece?
Vêem nisto um impedimento a que eu seja primeiro-ministro?
É que, se virem, eu ficarei fora do Governo e a AD indicará outro nome, do PSD, para a chefia do Executivo.
Era sobre isto que os queria ouvir, sem mais ninguém à volta.
***
Apesar do melindre do tema (estávamos em 1980, e ainda nem sequer se falava em 'uniões de facto'), senti, como líder do segundo maior partido da coligação, que era a minha vez de falar.
E disse
- Francisco, antes de mais, deixe-me que lhe diga quanto aprecio a franqueza - e ao mesmo tempo a humildade democrática - com que nos coloca essas questões, e o desprendimento com que admite a hipótese de, ganhando as eleições, não vir a ser primeiro-ministro.
Entrando agora na substância das questões colocadas, a minha resposta é sim às duas.
Quanto à primeira, e mesmo abstraindo agora das suas excepcionais qualidades de liderança, acho evidente que o presidente do maior partido da coligação , e líder da AD, é que deve ser o primeiro- -ministro, se ganharmos.
Quanto à segunda questão, também acho que a sua situação familiar não deve constituir impedimento a que seja proposto e nomeado primeiro-ministro.
Se se tratasse de escolher um candidato a Presidente da República, talvez houvesse que ponderar melhor o problema.
Agora, um primeiro-ministro é um chefe polí- tico, é o comandante das forças que apoiam o Governo e é quem conduz o combate democrático contra as oposições.
Não se lhe pede que seja um modelo de conduta privada, mas sim que seja um bom gestor da coisa pública.
Um primeiro-ministro não pode ser julgado por parte dos eleitores em função da vida familiar, mas sim em função da forma como governa o Estado.
Para mim, e em nome do CDS, o Francisco deve ser, sem qualquer dúvida, o candidato da AD a primeiro-ministro.
-
Sá Carneiro manteve-se em silêncio.
-
Foi a vez de Gonçalo Ribeiro Teles falar- Eu tenho pouco a acrescentar ao que o Diogo disse. Penso exactamente da mesma maneira. Por mim, e pelo PPM, o Francisco é o candidato.
**
Estávamos a chegar a Coimbra.
Senti estar a viver um momento histórico.
Sá Carneiro declarou apenas
- Muito obrigado pela vossa opinião. Sei que estão ambos a ser totalmente sinceros comigo, e que me dizem o que disseram apenas por uma razão de simpatia. Fica então combinado que, se ganharmos, a AD proporá ao Presidente da República o meu nome para primeiro-ministro.
Restará depois saber se o Presidente me aceita, como tal, mas isso ver-se-á na altura própria.Estava ali outro tema bem interessante de conversa a três. Mas já não havia tempo. O carro estava a parar no local combinado, em Coimbra, onde uma longa e animada caravana nos esperava aos gritos de Vitória! Vitória! Vitória!
*
Não posso deixar de comentar, no final desta pequena história, que ele encerra uma grande lição.
Nunca conheci ninguém, em Portugal ou no estrangeiro, que, à beira de uma vitória eleitoral estrondosa, fosse capaz de mostrar tanta honestidade pessoal, tanta lealdade para com os parceiros de coligação, e tanto desapego ao Poder!
*
Francisco Sá Carneiro era, de facto, um grande Homem."
-
*Vice-primeiro-ministro do Governo de Sá Carneiro

6 Comentários:

Blogger DarkMorgana disse...

Um grande homem...
E eu, que já na altura gostava dele, assisti sem saber à sua morte, quando aos 11 anos, da janela da cozinha, observava um pequeno avião que tinha acabado de descolar e que explodiu no ar.

04 dezembro, 2005  
Blogger Cleopatra disse...

PUXA Morgana!!
Com esse testemunho podem "convidá-la" a ser testemunha caso o Supremo Tribunal decida que a Relação de Lisboa deve reabrir o processo.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

04 dezembro, 2005  
Blogger DarkMorgana disse...

E eu vou! Afinal ele é o único político que alguma vez me inspirou confiança...o que, a julgar pelas amostras, é coisa que nunca mais vai acontecer...

04 dezembro, 2005  
Blogger Cleopatra disse...

São assim os Homens verticais... Na Vida... na politica...nas paixões....

04 dezembro, 2005  
Blogger Eva disse...

Agora fico eu envergonhada. Mas conta na mesma. Estava eu lá na minha aldeia entretidinha a ver na velhinha RTP um concerto da Nina Hagen (e que piada que lhe achava)e não que o avião lá se lembrou de cair! Que chatice. Acabou logo o concerto. E dpois? foram 2 ou 3 dias que o rádio da cozinha só pava "música de mortos". Que má memória. E os meus pais lá muito tristes lamentavam tudo aquilo e eu só me lembrava do concerto que estava a ver......
Mais tarde, realmente, formulei umas opiniões sobre o senhor. Mas não vou mostrá-las aqui. Estou autista. Já o disse lá atrás.

07 dezembro, 2005  
Blogger Cleopatra disse...

Vamos lá a sair desse autismo...

Acorde menina.
Eu acho que há aí muita coisa para deitar cá para fora!!!

07 dezembro, 2005  

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