CleopatraMoon

Um Mundo à parte onde me refugio e fico ......distante mas muito próxima.

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Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “ A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. Apontamento: Gosto que pensem que sou parva. Na verdade não o sou. Faço de conta, até ao dia em que permito que percebam o quanto sou inteligente.

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sábado, dezembro 16, 2006

Toda a aproximação é um conflito

Que somos todos diferentes, é um axioma da nossa naturalidade.
Só nos parecemos de longe, na proporção, portanto, em que não somos nós.
A vida é, por isso, para os indefinidos; só podem conviver os que que nunca se definem, e são, um e outro, ninguéns.
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Cada um de nós é dois, e quando duas pessoas se encontram, se aproximam, se ligam, é raro que as quatro possam estar de acordo.
O homem que sonha em cada homem que age, se tantas vezes se malquista com o homem que age, como não se malquistará com o homem que age e o homem que sonha no Outro?
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Somos forças porque somos vidas.
Cada um de nós tende para si próprio com escala pelos outros. Se temos por nós mesmos o respeito de nos acharmos interessantes (...)
Toda a aproximação é um conflito.
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O outro é sempre o obstáculo para quem procura.
Só quem não procura é feliz; porque só quem não busca, encontra, visto que quem não procura já tem, e já ter, seja o que for, é ser feliz, como não pensar é a parte melhor de ser rico.


Olho para ti, dentro de mim, noiva suposta, e já nos desavimos antes de existires.
O meu hábito de sonhar claro dá-me uma noção justa da realidade.
Quem sonha de mais precisa de dar realidade ao sonho.
Quem dá realidade ao sonho tem que dar ao sonho o equilíbrio da realidade.
Quem dá ao sonho o equilíbrio da realidade, sofre da realidade de sonhar tanto como da realidade da vida e do irreal do sonho como do sentir a vida irreal.
Estou-te esperando, em devaneio, no nosso quarto com duas portas, e sonho-te vindo e no meu sonho entras até mim pela porta da direita; se, quando entras, entras pela porta da esquerda, há já uma diferença entre ti e o meu sonho.
Toda a tragédia humana está neste pequeno exemplo de como aqueles com quem pensamos nunca são aqueles em quem pensamos.

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Fernando Pessoa, in 'O Rio da Posse'
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3 Comentários:

Blogger Ni disse...

...

Moon... menina Cléo da lua... o que tu colocaste no teu blog não é um 'post'... é um blog dentro de outro blog... porque Fernando, A Pessoa... é um Universo... e estes excertos...

«Só quem não procura é feliz»
...

Voltarei (várias vezes) a este post para o comentar. Com tempo, com 'alma' (anima), a tal vida que faz de nós forças (e fragilidades, que quando assumidas... forças são).

Abraço de vento

Ni*

16 dezembro, 2006  
Blogger C.M. disse...

o excesso de lucidez é associal...

16 dezembro, 2006  
Anonymous Anónimo disse...

"Toda a tragédia humana está neste pequeno exemplo de como aqueles com quem pensamos nunca são aqueles em quem pensamos." Exagero e verdade... à Pessoa!

23 dezembro, 2006  

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