quinta-feira, dezembro 14, 2006

Que.....

*


*
Que a palavra amor seja apagada em todos os escritos,
esquecida em todas as línguas...
Para que jamais me ouças dizer que te amo!...
.
Que a brisa te não volte a acariciar,
que a Lua não olhe mais para ti...
Para que eu não possa mais sentir ciúmes!...
.
Que o Sol não beije mais, a tua pele...
que as flores percam a sua cor e o seu perfume...
que se extinga tudo o que é belo...
Para que eu não possa dizer que toda a beleza do mundo
é um mísero detalhe cénico na divina perfeição do teu corpo!...
.
Que se calem os pássaros, os rios e o mar...
mas que não se faça silêncio...
Para que no meio dele eu não ouça a tua voz!...
.
Que se acabem as canções...
que se proíba a poesia...
Que se extingam os sonhos...
que se apaguem as estrelas...
Para que jamais te possa lembrar!...
.
Apache, Abril de 2006
*

9 comentários:

  1. ....

    Há quem me acuse de semear reticências. (E, ainda por cima, muitas vezes acrescento um ponto.... sei lá se por rebeldia, se para quebrar a conta que Deus fez... ). Agora, essa acusação surge face aos comentários que vou escrevendo nos poucos blogs que leio. Nos tempos em que ousava mostrar o que escrevia... criticavam essa minha forma de fazer silêncio... nos textos que me espelhavam.

    Este poema...
    ....
    Comecei a lê-lo e pensei 'o autor é um homem, sem dúvida (já explico porquê, ou talvez não explique...), mas não me recordo de que poeta se trata....'
    ...
    É um grande poema! E, desculpem a imodéstia, mas reconheço a qualidade da escrita assim como... o som das vozes das pessoas que amo. E de tal modo que assumo, com toda a simplicidade, que nunca serei 'grande' na escrita. Mas reconheço-a!
    ...

    Cleópatra, tens mesmo a astúcia das guardiãs lunares... detectas os textos que contêm fios que unem as palavras como um cristal...

    E, apesar deste poema ser um grito, um 'uivo' de dor - desculpa Apache! - ele não fere o 'outro', tem o efeito boomerang... atinge, magoa, quem o 'disse'... porque o que eu li foi:

    ' Que a palavra amor seja celebrada em todos os escritos,
    reinventada em todas as línguas...
    Para que sempre me ouças dizer que te amo!...
    .
    Que a brisa te não pare de
    acariciar,
    que a Lua não olhe senão para ti...
    Ainda que eu possa sentir ciúmes!...

    ....

    Belíssimo.

    ...
    Gostaria de o 'dizer'... e fazer a gravação.
    ...

    Belíssimo...


    Ni*

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  2. É na verdade belíssimo.
    E é-o porque é sentido.
    Toda a escrita que é sentida, que nos vem das entranhas, do sentir, seja ele qual fôr, é lindíssima.
    Não se pode escrever por escrever, apenas escrever porque se sente.

    Escolhi este poema do Apache porque me toca.
    Porque penso que é dos poucos homens que conheço que tem a coragem de escrever o que realmente sente.
    CORAGEM.

    Para escrever é preciso ter coragem e despirmo-nos de todos os preconceitos, como quando se faz realmente amor.
    Belíssimo sim.

    Não sei se tenho "tens mesmo a astúcia das guardiãs lunares... " mas gostava muito que esse elogio fôsse verdadeiro.

    Só senti ao lê-lo que há mais quem sinta ssim, e porque faço do poema a mesma interpretação que tu, escolhi-o porque o senti.

    Um bj NI.
    É um prazer ter-te por aqui.

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  3. Muito sentido, e transmite verdade.
    Gostei...

    Apenas uma coisita, não entendo a diferença que muitas pessoas encontra entre a escrita de homem e mulher, mas enfim...

    Até outro instante

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  4. Louco de Lisboa...

    (São os loucos de Lisboa
    Que nos fazem recordar
    A Terra gira ao contrário
    E os rios correm para o mar)
    ...

    «Apenas uma coisita, não entendo a diferença que muitas pessoas encontra entre a escrita de homem e mulher, mas enfim...»
    ...

    Há, sim.
    Rectifico: eu sinto essa diferença. Para mim... existe. Quando um homem expõe as suas emoções, sem medidas de versos contados, é mais 'límpido' do que a mulher. Por isso nos toca tão profundamente.

    É algo controverso, eu sei.
    Mas se eu sinto... digo.

    Até outro momento.

    Ni

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  5. Humm... sempre senti que o sentir tem a ver com o sentir de cada um e com a capacidade em passar esse sentir para palavras, vai daí...

    Até outro instante!

    £oµ¢o Ðe £Î§ßoa

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  6. O que eu acho mais engraçado é que nós mulheres por vezes , não raparamos que os poemas mais sentidos, os poemas de amor, os de paixão, são escritos por homens...Engraçado, não é?

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  7. Apeteceu-me...


    No mais fundo de ti,
    eu sei que traí, mãe!

    Tudo porque já não sou
    o retrato adormecido
    no fundo dos teus olhos!

    Tudo porque tu ignoras
    que há leitos onde o frio não se demora
    e noites rumorosas de águas matinais!

    Por isso, às vezes, as palavras que te digo
    são duras, mãe,
    e o nosso amor é infeliz.

    Tudo porque perdi as rosas brancas
    que apertava junto ao coração
    no retrato da moldura!

    Se soubesses como ainda amo as rosas,
    talvez não enchesses as horas de pesadelos...

    Mas tu esqueceste muita coisa!
    Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
    que todo o meu corpo cresceu,
    e até o meu coração
    ficou enorme, mãe!

    Olha - queres ouvir-me? -,
    às vezes ainda sou o menino
    que adormeceu nos teus olhos;

    ainda aperto contra o coração
    rosas tão brancas
    como as que tens na moldura;

    ainda oiço a tua voz:
    "Era uma vez uma princesa
    no meio de um laranjal..."

    Mas - tu sabes! - a noite é enorme
    e todo o meu corpo cresceu...

    Eu saí da moldura,
    dei às aves os meus olhos a beber.

    Não me esqueci de nada, mãe.
    Guardo a tua voz dentro de mim.
    E deixo-te as rosas...

    Boa noite. Eu vou com as aves!


    Eugénio de Andrade


    Até outro instante!

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  8. Temos poetas!
    MUITOS!
    E poetisas também!
    Onde andam elas?!

    Poema sobre a recusa

    Maria Tereza Horta

    Como é possível perder-te
    sem nunca te ter achado
    nem na polpa dos meus dedos
    se ter formado o afago
    sem termos sido a cidade
    nem termos rasgado pedras
    sem descobrirmos a cor
    nem o interior da erva.

    Como é possível perder-te
    sem nunca te ter achado
    minha raiva de ternura
    meu ódio de conhecer-te
    minha alegria profunda

    ----------------------------
    Os silêncios
    Maria Teresa Horta
    Não entendo os silêncios
    que tu fazes
    nem aquilo que espreitas
    só comigo

    Se escondes a imagem
    e a palavra
    e adivinhas aquilo
    que não digo

    Se te calas
    eu oiço e eu invento
    Se tu foges
    eu sei não te persigo

    Estendo-te as mãos
    dou-te a minha alma
    e continuo a querer
    ficar contigo

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  9. Acho que conheço este "Que" de qualquer lado... Obrigado!!!
    Interessante, a sua interpretação e a da Ni...

    "Para escrever é preciso ter coragem e despirmo-nos de todos os preconceitos, como quando se faz realmente amor.
    Belíssimo sim."
    Quanto aos preconceitos, engana-se porque tenho alguns... Quanto à coragem, tem dias, às vezes, outros valores mais altos, se levantam...

    Obrigado também à Ni pelos comentários!

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os escribas disseram