quarta-feira, dezembro 13, 2006

O Poço




Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
.
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorris
e minha boca fere.
.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, sorrie-me ajuda-me a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
.
Pablo Neruda

5 comentários:

  1. Olá menina...

    Nega-me o pão, o ar,
    a luz, a primavera,
    mas nunca o teu riso,
    porque então morreria.

    Pablo Neruda

    Porque, amor com amor se paga.

    (mais um, estou mãos largas...) largas


    Saberás que não te amo e que te amo
    posto que de dois modos é a vida,
    a palavra é uma asa do silêncio,
    o fogo tem uma metade de frio.

    Eu te amo para começar a amar-te,
    para recomeçar o infinito
    e para não deixar de amar-te nunca:
    por isso não te amo ainda.

    Te amo e não te amo como se tivesse
    em minhas mãos as chaves da fortuna
    e um incerto destino desafortunado.

    Meu amor tem duas vidas para amar-te.
    Por isso te amo quando não te amo
    e por isso te amo quando te amo.

    Pablo Neruda


    Vou embora...
    Até outro instante

    ResponderEliminar
  2. Por isso te amo quando não te amo
    e por isso te amo quando te amo.


    Neruda sabia tanto dos sentimentos!..
    Sabes? Não tinha medo deles, nem de os gritar, nem de os sentir, nem de os dizer...
    Adoro Neruda!!

    Não tens mais???

    Deves ter sim.
    Tanto poeta por aqui!

    ResponderEliminar
  3. Tu eras também uma pequena folha
    que tremia no meu peito.
    O vento da vida pôs-te ali.
    A princípio não te vi: não soube
    que ias comigo,
    até que as tuas raízes
    atravessaram o meu peito,
    se uniram aos fios do meu sangue,
    falaram pela minha boca,
    floresceram comigo.
    Pablo Neruda
    bjinhos

    ResponderEliminar
  4. LINDO!!!!

    Muito bonito Manza...
    Neruda é um verdadeiro poeta.Um grande poeta!!

    Conhece os versos do capitão.????

    ResponderEliminar
  5. Eis uma dos vários in " Os versos do Capitão"

    O Vento na Ilha

    O vento é um cavalo:
    ouve como ele corre
    pelo mar, pelo céu.

    Quer levar-me: escuta
    como percorre o mundo
    para levar-me para longe.

    Esconde-me em teus braços
    por esta noite apenas,
    enquanto a chuva abre
    contra o mar e contra a terra
    a sua boca inumerável.

    Escuta como o vento
    me chama galopando
    para levar-me para longe.

    Com tua fronte na minha
    e na minha a tua boca,
    atados os nossos corpos
    ao amor que nos abrasa,
    deixa que o vento passe
    sem que possa levar-me.

    Deixa que o vento corra
    coroado de espuma,
    que me chame e procure
    galopando na sombra,
    enquanto eu, submerso
    sob os teus grandes olhos,
    por esta noite apenas
    descansarei, meu amor.

    ResponderEliminar

os escribas disseram