domingo, janeiro 08, 2006

A Cidade e o Rio
















Há um vitral de luz no meu olhar
Um reflexo de voz quente e doce ...
Ao longe o rio percorre um destino sem limite ou definição
E, na neblina transparente que o envolve
Desenha-se um beijo , um gesto ou um desejo

Não há tempo no tempo que passa
E a tarde avança de mãos dadas com o dia
Como se não existisse noite

Como se houvesse fogo no meu cabelo
Ou um desejo louco de te beijar....
Como se a neblina se deixasse apenas existir ao longe a flutuar...

E, subitamente como o bater de asas de uma gaivota que passa,
Como se na voz não houvesse som ou no olhar calor,
A tarde abandona o dia, sem tempo para a neblina ou o rio. ....



---ACCB---

4 comentários:

  1. Isto será uma paixão entre um olhar e a voz, a tarde e o dia, ou a neblina e o rio?
    Seja como fôr...é certamente uma paixão...

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  2. Cleopatra
    Mais um poema que nos dá a conhecer e como não podia deixar de ser, é muito bonito... (suspiros) ...

    Trago-lhe aqui FP, através do seu heterónimo Álvaro de Campos, que fala também da nossa querida LISBOA

    "Lisboa

    Lisboa com suas casas
    De várias cores,
    Lisboa com suas casas
    De várias cores,
    Lisboa com suas casas
    De várias cores ...
    À força de diferente, isto é monótono.
    Como à força de sentir, fico só a pensar.
    Se, de noite, deitado mas desperto,
    Na lucidez inútil de não poder dormir,
    Quero imaginar qualquer coisa
    E surge sempre outra (porque há sono,
    E, porque há sono, um bocado de sonho),
    Quero alongar a vista com que imagino
    Por grandes palmares fantásticos,
    Mas não vejo mais,
    Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
    Que Lisboa com suas casas
    De várias cores.

    Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
    A força de monótono, é diferente.
    E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

    Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
    Lisboa com suas casas
    De várias cores."


    Sei que FP tem mais poemas sobre este tema... por isso, procurarei trazê-los ao seu "site".

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  3. Aqui vai mais um desta vez do outro heterónimo ...

    Alberto Caeiro

    "O Tejo é mais Belo


    O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
    Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
    Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
    O Tejo tem grandes navios
    E navega nele ainda,
    Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
    A memória das naus.
    O Tejo desce de Espanha
    E o Tejo entra no mar em Portugal.
    Toda a gente sabe isso.
    Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
    E para onde ele vai
    E donde ele vem.
    E por isso porque pertence a menos gente,
    É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
    Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
    Para além do Tejo há a América
    E a fortuna daqueles que a encontram.
    Ninguém nunca pensou no que há para além
    Do rio da minha aldeia.
    O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
    Quem está ao pé dele está só ao pé dele."

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  4. É sem dúvida uma Paixão!
    E eu tenho uma grande paixão...

    Uma paixão enorme
    pela minha cidade....
    Por Lisboa...

    Eu sou por natureza apaixonada...
    Apaixonada pela Vida
    Por reflexos..
    Por sons
    Por sentidos...
    Por cores...


    Faço tudo com Paixão
    Até zangar-me
    Até ser feliz
    Até pensar
    Até escrever
    Até julgar...
    Até sofrer!

    Deve ser uma paixonite aguda!


    P.S. - "vxckrjmb" - este deve ser o medicamento indicado.
    Alguém sabe onde posso encontrar?

    Mas... acreditem que não vou tomar!!!

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os escribas disseram