quinta-feira, janeiro 31, 2008


"De Sesimbra com Amor


Vai continuar a falar-me pela palavra escrita ou oral. A ausência física é dolorosa, mas justificável por aceitável; a das palavras seria fatal. Elas foram o móbil da sedução. Serão elas a permitir a sobrevivência da presença."
-
Harry Haller

1 comentário:

  1. 1.
    Ela dizia-me
    -- Não podemos.
    E abraçávamo-nos docemente. Tranquilamente como se
    (A eternidade pode ser coisa de segundos. Um olhar.)
    o tempo e o espaço
    o imaterial e o físico fossem a mesma coisa.
    Eu dizia silêncios. E nos olhos dela via lágrimas impossíveis
    oceanos fundos onde nada mais existia. Só aquele momento
    só aquele momento contava
    e abraçavamo-nos com mais força. Quase nos fundíamos num único sorriso melancólico.
    -- Talvez pudessemos fugir -- dizia-lhe para dar sentido à despedida que sabíamos esperar-nos.
    Conseguíamos ouvir a redundante frase do mar e dos grilos tropicais e das ondas de calor e do suor
    -- Para onde.
    dizer-nos que a vida é esquecimento.
    -- Para um lugar na ausência de tudo. Uma praia.
    -- Mas onde
    não podemos -- sussurava pedindo-me a coragem que tudo condenaria. -- Tudo nos aguarda lá fora.
    Esfreguei os lábios na sua pele com vontade de a despir do mundo
    como se pudessemos
    nús
    ser um verso final e imutável
    impossível
    de um permanente poema. Um poema nú
    na ausência de tudo.
    -
    W

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os escribas disseram