quarta-feira, novembro 28, 2007



Ainda a propósito de carros sujos e homens burros, lembrei-me deste pedacinho da insustentável leveza do ser de Kundera.



"Num curto espaço de tempo, conseguiu, portanto, desembaraçar-se de uma mulher, de um filho, de uma mãe e de um pai.


Só lhe ficara o medo das mulheres.

Desejava-as, mas elas atemorizavam-no.
Entre o medo e o desejo, arranjara um compromisso; era aquilo a que chamava «amizade erótica».
Dizia peremptoriamente às amantes: só uma relação expurgada de todo e qualquer sentimentalismo, só uma relação em que nenhum dos parceiros se arrogue qualquer direito especial sobre a vida e a liberdade do outro, pode fazê-los felizes a ambos.

Para se assegurar de que a amizade erótica nunca se deixaria vencer pela agressividade do amor, espaçava intencionalmente os encontros com as suas amantes permanentes.
Este sistema dava-lhe a possibilidade de nunca romper com as amantes e de tê-las em abundância.

Nem sempre era bem entendido. De todas as suas amigas, quem o entendia melhor era Sabina, uma pintora.

Esta dizia-lhe: « Gosto muito de ti porque és precisamente o contrário de Kitsch.
No reino do Kitsch, tu eras um monstro.
Num filme americano ou num filme russo nunca passarias de um caso repugnante.»

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Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser

4 comentários:

  1. Hum... Acho que desta vez, falhou o alvo :)

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  2. Sabe que mais, Cleópatra ?
    V. é incorrigível.
    Apetecia-me ser crocodilo e surpreendê-la numa das suas banhocas no Nilo.
    Que grande mordidela !

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  3. Comentário só para comentar: o meu carro precisa de ser lavado. E eu sou burro. Mas eu também não tenho nada a ver com o assunto. A não ser o carro sujo e o ser burro :-)

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os escribas disseram