domingo, agosto 12, 2007


Súplica
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Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
*
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
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Miguel Torga
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Centenário do nascimento de Miguel Torga, - Adolfo Correia Rocha.

Poeta, ensaísta, dramaturgo, romancista e contista.
Proposto duas vezes para Nobel da Literatura Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, São Martinho de Anta - Vila Real, 12 de Agosto de 1907Coimbra, 17 de Janeiro de 1995)

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5 comentários:

  1. 12AGO07
    Grande poeta que nos deixou hà bem pouco tempo (1995), que se fosse vivo hoje completaria um Século.
    Presto a minha modesta homenagem com um dos seus muitos poemas:

    "Porque
    não vens agora, que te quero
    E adias esta urgência?
    Prometes-me o futuro e eu desespero
    O futuro é o disfarce da impotência...."

    Hoje, aqui, já, neste momento,
    Ou nunca mais.
    A sombra do alento é o desalento
    O desejo o imite dos mortais.

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  2. matar a sede com água salgada....
    Linda, a tua homenagem!

    Beijo de Gata. Boa semana.

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  3. "Prometes-me o futuro e eu desespero
    O futuro é o disfarce da impotência...."

    Hoje, aqui, já, neste momento,
    Ou nunca mais"
    É isso Manza que diz o Miguel Agora ou nunca mais.

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  4. Um dos muitos injustiçados pela Academia Sueca.

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  5. Não tenho mais palavras.


    Gastei-as a negar-te...


    (Só a negar-te eu pudesse combater


    O terror de te ver


    Em toda a parte.)



    Fosse qual fosse o chão da caminhada,


    Era certa a meu lado


    A divina presença impertinente


    Do teu vulto calado


    E paciente...



    E lutei, como luta um solitário


    Quando alguém lhe perturba a solidão.


    Fechado num ouriço de recusas,


    Soltei a voz, arma que tu não usas,


    Sempre silencioso na agressão.



    Mas o tempo moeu na sua mó


    O joio amargo do que te dizia...


    Agora somos dois obstinados,


    Mudos e malogrados,


    Que apenas vão a par na teimosia.



    Miguel Torga


    Antologia Poética


    Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1999

    ...

    Nem comento...

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os escribas disseram