terça-feira, maio 08, 2007

Ainda a Violência Doméstica
É com esta imagem que o Manza faz uma postagem relativa à Violência Doméstica.
Postagem essa verdadeiramente informativa e com imagem abrangente e significativa de um conjunto de violências que têm lugar no seio de algumas familias.
E olhem que não são assim tão poucas.


A Violência doméstica não é exercida apenas por homens mas, também, por mulheres, por filhos e pais, por tios...por seres que partilham uma vida familiar comum.
E não pensem que é apensa fisica.
Há a violência psicológica, a que muitas vezes leva ao suicídio.

Maria, não importa o nome, era uma rapariga que podia ser qualquer uma de nós, ou filha de um de nós, ou irmã... Enamorou-se de um tipo... Mesmo contra a vontade dos pais decidiu casar com o tipo.
Tremendamente ciumento fazia-lhe sessões nocturnas de tortura psicológica, disfarçada de:
- vamos conversar, amo-te muito, onde estiveste...
Quando tiveram o primeiro filho, ele não suportava o choro da menina e agredia ambas, puxando os acabelos à mãe e batendo-lhe e, atirando sapatos e outros objectos à criança.
Anos neste ambiente, em que enervado com os brinquedos de Maria filha, os pisava e destruía, irritado ou enervado, fechava-as em casa...
Queixas?
Todas retiradas...
Até que um dia de manhã, Maria se suicidou....Atirou-se da janela por onde lhe permitiam a saída de casa. Um 5º andar.
Julguei o tal tipo há dias ... é um de entre tantos outros... Nem apareceu no julgamento... A Lei permite-lho.
Apareceu a filha,....apareceram os sogros, os conhecidos, alguns amigos...
Maria também não apareceu.

Eu tinha prometido algo mais longo e demorado sobre este tema.

É um assunto que nos preocupa, até porque a Família deve ser o elo essencial e indissolúvel, que permita ao ser humano formar-se com equilibrio e serenidade, proporcionando assim ao seu semelhante, um equilibrio de personalidade indispensável a uma sociedade estruturada com base em valores que não desprezamos.

Tive uma vez um homem vitima de violência doméstica...sorriu envergonhado, que já estava tudo bem, que também tinha dado oportunidade, que queria desistir...
A tristeza era o espelho do seu olhar.
A mulher ao seu lado ria-se como se na verdade tudo tivesse sido ocasional... Uma briga de namorados, uma desavença entre quem se ama...um bate boca apenas...
Mas o respeito morrera no dia em que ela deixara de o respeitar e o agredira fisicamente... e com ele, morrera o homem que havia dentro dele.Não tinha sido um desentendimento de quem se ama.
Homologuei a desistência, contrariada... A lei permitia-o.
Saíram ambos por aquela porta,...ainda os revejo hoje...na tristeza do olhar dele e no sorriso idiota dela...
Não havia nada. Nem pena.

****

Mas as crianças senhor, porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?

Manuel tinha 6 filhos. Todos com um ano de intervalo ou dois. Perdera o emprego e os filhos pequenos ficavam à sua guarda....Guarda... Ficavam à sua mercê. Dormiam a 3 e 3 na mesma cama. Num quarto sem janelas , sem condições, sem mimos...

A mais velha era vitima de abusos sexuais quando ele lhe dava na veneta e a ía buscar à cama durante a noite, mesmo quando se deitava do lado da parede para lhe escapar.

O de três anos se se "portava mal" tinha de lavar a loiça e era proibido de almoçar...........ficava sem comer tantos dias!

Os outros apanhavam ou com um cinto ou com as botas, ou com ...o que tivesse à mão.

Os filhos não o quiseram ver. Franzinos, ...crianças tristes, vestidas com roupas escuras, lá da instituição de onde vinham...Santo Deus! Tanta dor. Crinças doridas, feridas, sós, ... carentes,... cheias de medos...sorrisos esquecidos...Como se sorri pareciam os olhos perguntar?

No dia do julgamento, ele, era um pedaço de farrapo humano. Confesso que quando recebi o processo e marquei data para julgamento, depois de o ler, imaginei o homem mais frio, mais brutal, mais terrivelmente violento que se pode imaginar...Há sempre um cenário que nos passa pelos olhos, pelo sentir, antes da realidade...

Olhámo-nos nos olhos. As mãos estavam presas uma na outra, penduradas dos ombros e, os olhos eram lagos estreitos e profundos de tristeza e frustração. O primeiro gesto foi um encolher de ombros...os outros foram sacudir de ombros por soluços de quem chora como se chorasse por outra pessoa...outra alma...outra vida...

Confessou os factos.

Nunca tive casos de violência contra idosos. Mas sei que os há. Talvez sejam menores as queixas, porque são eles quem tem menos voz, menos capacidade de locomoção...menos capacidades... menos....não sei. Custa-me pensar que alguém lhes possa fazer mal, mesmo quando são "chatos", exigentes, e fazem chantagem emocional...

Será que seremos assim?


A Violência doméstica, mais precisamente as vitimas de maus tratos, merecerão do legislador mais atenção e cuidado na revisão do CP.

Volto outro dia para falar da lei que vem aí. Mais assertiva, mais preocupada, mais realista. Mais justa.

Mais conhecedora das realidades que nos rodeiam. Do silêncio da solidão da vergonha de quem é

vítima de maus tratos.


ACCB


8 comentários:

  1. Fiquei muito impressionado com este seu artigo. As consequências da violência, de facto, podem perseguir a vida inteira de uma pessoa. As imagens não conseguem ser apagadas...principalmente quando somos alvo de violências em pequeninos...

    Mão pesada sempre que possa, Cleo...

    ResponderEliminar
  2. Não entendo o porquê, de, a frase que mais me marcou seja relativa ao agressor.

    "O primeiro gesto foi um encolher de ombros...os outros foram sacudir de ombros por soluços de quem chora como se chorasse por outra pessoa...outra alma...outra vida..."

    Tanto que há a fazer para contrariar este circulo de violência.
    Penso que a resolução, não está no fim da cadeia, mas no inicio, no criar condições para os Homens de amanhã saberem respeitar o próximo.

    ResponderEliminar
  3. As imagens chocam e o texto é fortissimo. Infelizmente a manipulação, a falta de auto-estima, o medo da solidão, a falta de independência económica e afectiva fazem desta realidade da violência uma história/histórias frequentes. É necessário percebermos que todos nós temos que mudar este rumo de relações.Nos nossos circulos próximos, nos que nos são desconhecidos mas que nos chega o eco da dor.
    A tua postagem é um grito de alerta na consciência colectiva. Bem haja
    Um abraço
    Marisa

    ResponderEliminar
  4. Cleo (a propósito do teu comentário):
    se conheces alguns cavaleiros assim podes considerar-te uma privilegiada pois poucos são os que fazem uma viagem de auto descoberta para se livrarem da sua enferrujada armadura. Eu pessoalmente começo a ficar preocupada. É o segundo livro com "ferrugem" que leio em 15 dias..Risos..
    Obrigado pela tua cumplicidade
    Um abraço
    Marisa

    ResponderEliminar
  5. Ninguém pode aficar indiferente depis de ler o teu texto...Bjs

    ResponderEliminar
  6. Obrigado Cleo
    Realmente esta é, infelizmente, uma realidade por isso quanto mais a denunciarmos, mais a ajudaremos a diminuir.
    bjo

    ResponderEliminar
  7. Uma triste realidade mas que não precisava de ser ilustrada com imagens manipuladas, Cléo.
    A violência doméstica é uma das "chagas" da nossa sociedade e seu texto é suficientemente perturbador para nos levar à reflexão. Algumas dstas imagens eram dispensáveis.

    ResponderEliminar
  8. Está chocado com as imagens Apache?
    Devia ver algumas das que estão dentro dos processos que julgo todos os dias.
    Aí sim
    Ía ficar horrorizado.
    E essas não são manipuladas acredite!

    ResponderEliminar

os escribas disseram