terça-feira, setembro 18, 2007

Eu também não. -


Fernando Pessoa
Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que sogue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo : "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu.

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"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
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Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925

2 comentários:

  1. Não sei o que desgosta
    A minha alma doente.
    Uma dor suposta
    Dói-me realmente.

    Como um barco absorto
    Em se naufragar
    À vista do porto
    E num calmo mar,

    Por meu ser me afundo,
    Pra longe da vista
    Durmo o incerto mundo.

    Fernando pessoa

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  2. "Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou."

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os escribas disseram