sexta-feira, junho 16, 2006

Poetisas Portuguesas ( ou quase )

Lua Adversa.
Tenho fases, como a lua.

Fases de andar escondida,

fases de vir para a rua...

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vem,

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrário

inventou para meu uso.

E roda a melancolia

seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém

(tenho fases, como a lua...)

No dia de alguém ser meu

não é dia de eu ser sua...

E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu....

CECÍLIA MEIRELES

*

**

JARDIM DE INVERNO

--- Fim de Outono...

Pedaço de qualquer coisa

Que nos falta...

Rio de leito morno...

Pássaro que pia e poisa,

Esperando a lua, noite alta!.

--- Chega o inverno.

O desalento da friagem,

Injúrias de um inferno,

As ilusões...

Sente-se a louca viragem,

Morrem tristes as paixões,

Vem a mágoa.

Sofrendo, o corpo em lancidão

Espera a morte...

Mitiga a sede na água

Que há no sangue do coração

E ainda verte por tal sorte.......

Volta a esperança.

Uma nova vida vem,

Aliviar o inferno!

E com o amor dessa criança,

A avó sente que ainda tem,

Um lindo Jardim de Inverno....

.

Lisboa, Fevereiro de 1977.

Esmeralda Gonçalves

**

NAS ASAS DE UMA GAIVOTA


.
Nas asas de uma gaivota
está a calma de um sol poente
estão vidas pintadas a pastel
está uma nostalgia quente
.
Nas asas de uma gaivota
está o cheiro vivo a maresia
estão as manhãs frescas de luz
está a azáfama crescente do dia
.
Nas asas de uma gaivota
estão Alfama e a Madragoa
está o pregão da varina
está o fado, está Lisboa
.
Nas asas de uma gaivota
estão intermináveis danças
está a liberdade urgente
estão sonhos, estão esperanças
.
Nas asas de uma gaivota
está o beijo, a ansiedade
a despedida apertada
está o olhar, está a saudade
.
MCB 06

http://darksidemorgana.blogspot.com/

*

BEBIDO O LUAR

Bebido o luar,
ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.*
**
*
Sophia de Mello Breyner Andresen
*

6 comentários:

  1. Boa poesia, para se entrar no fim de semana com outro ânimo, já que o tempo não ajuda.

    Tem um óptimo fim de semana.

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  2. Adoro este poema...

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  3. Quanto honra euzinha, a humilde MCB, ter um poema postado ao lado de poemas lindíssimos de poetisas como Sophia de Mello Breyner Andersen e Cecília Meireles!!!

    Já vi que gostaste mesmo das asas da "minha" gaivota!!!

    Obrigado!

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  4. Bem... Isto é que foi "postar" belas poesias e lindas fotos. Destaco a Cecília Meireles e a "tuzinha" humilde do outro blog.

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  5. A Cecília Meireles, para ser portuguesa, só lhe falta não ser brasileira...

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  6. É verdade anónimo... Mas que falava o Português melhor que muitos Portugueses e o escrevia (e escreve porque os poetas não morrem ) melhor que outros... também é verdade.

    E não era só por ser professora.

    Para mim...tinha de ser portuguesa.

    Afinal, Vexa não sabe nada que os outros não saibam!!
    Bjinhos.

    E depois quem foi para o Brasil,... veja o nome dos pais dela, foram os portugueses.



    Há nacionalidades e nacionalidades.

    Os brasileiros já lá estavam e não tinham estes nomes, né cara?



    AFINAL provavelmente não lhe falta assim tanto para ser Portuguesa!

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os escribas disseram