
O DR Mário Soares "deu hoje a sua entrevista à" Judite de Sousa.
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Confesso que logo no início temi que fizesse birra e não quisesse responder a nenhuma pergunta.
Do estilo : - " Ou brinco como quero, ou já não jogo. Pronto! " E vai de beicinho.
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Com um sorriso rasgado, interiormente incomodada, a Judite de Sousa manteve o fair-play e lá foi explicando, que, com calma, ele iria perceber que as perguntas que lhe iriam ser postas e , os desafios, (pequenos) que lhe ía fazer, não iam doer nada.
Era só encostar para trás, abrir a boca e... responder.
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O grande monstro politico lá foi relaxando e lá foi sendo levado a responder.
Sim, que quer queiramos quer não, e tenha lá os defeitos que tiver, o Dr Mário Soares não deixa de ser um monstro politico.
Pelo menos até agora assim era considerado, quer por amigos e simpatizantes, quer pelos outros.
E o Sr Dr. lá foi tentando responder... sem deixar contudo de jogar o seu jogo ou seja, dizer apenas o que queria dizer, jogar apenas como queria jogar.
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Reparei que por acaso ( ou não) começou quase todas as frases por . " Eu ".
E seguiu o pronome pessoal de verbos como . - fiz, escrevi, publiquei, fui aplaudido, dei conferências....
Não é a enorme energia dos verbos que me preocupa. É o tempo verbal.
Para um FUTURO, candidato à Presidência da República, juro que preferia tê-lo ouvido no futuro do indicativo.
Eu farei, eu escreverei, eu vetarei, eu reunirei, eu tentarei, ....
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(Porque será que ninguém fala no Futuro, em realizar e fazer no futuro?!)
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E porque terá o ilustre jurista firmado a sua imagem tanto no passado?!
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E porque terá falado tanto na primeira pessoa do singular?!
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Confesso que admiro muito os Homens que, destacando-se dos mais, iniciam as suas frases por "nós", ainda que o nós seja individual, porque implica um esforço colectivo liderado por esse homem.
Nós, implica um envolvimento dos outros, sendo certo que o Eu é que permite e determina esse envolvimento.
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O Eu, é um pronome só e isolado e, se colocado no pretérito, ainda que perfeito, é um desastre de solidão acabada.
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Lembro-me que, quando mais jovem iniciava todas as frases por "EU", os meus pais me chamavam a atenção para a desnecessidade de o fazer.
Para me afirmar bastava dizer ao que vinha.
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E o Sr. Dr. nunca nos disse ao que vinha...
Só nos disse ao que veio e, isso, nós já sabemos.
Firmou-se no seu passado, mas o que queremos é que nos vislumbre o Futuro.
Disse algo que me fez acordar. Que apesar de saber que os seus poderes são Constitucionalmente controlados, pode dissolver um Governo.
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Foi a parte mais enérgica do seu discurso.
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Disse ainda que não representava nenhum partido...
Esqueceu aqui o seu passado politico e o seu presente .... quem o apoia...
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Mas de Futuro... nada.
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A meu ver... e humildemente, sem querer ferir ninguém, e sem ter em conta qualquer faixa etária, penso que o Sr. Dr. teria feito melhor se tivesse continuado no seu lugar politico, onde a História o colocou.
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Não porque tem a idade que tem...
Olhem-se Homens como Eugénio de Andrade, Alvaro Cunhal, Saramago, Nunes da Cruz, Maria Lamas, Sophia de Mello Breyner, Agustina Bessa Luís, Vieira da Silva, ( que não me lembro de outros agora e, estes, nem sequer estão por ordem ) e, repare-se na sua lucidez, na sua força, na sua linha de pensamento, na revolução de ideias que emanam ....
Não me venham com a ideia da idade...
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Mas, o passado serve apenas para nos dar estofo e trampolim para o futuro, de forma dinâmica e enérgica, não apenas para nos dar imagem ou credibilidade, a ponto de nos permitir viver à sombra do que já fomos e ainda somos , mas podemos deixar de ser.
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O que se esperava era não só um testemunho mas uma definição politica do papel do PR.
No dia 28 de Abril de 1974 - Domingo, a sua visão era de Futuro, não de passado...era democratizar e liberalizar um país que era também o seu.
Também como agora, a época era de crise...pelo menos politica...
Agora é de crise politica, económica e social...talvez exija mais energia...mais definição, mais clareza, mais Presente e mais sentido de Futuro, e menos sentido de Passado.
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Porque é que um economista não serve?
Porque servirá mais um Jurista?
Pouco nos importa!
Queremos é alguém que seja Presidente desta República e saiba o que isso significa num país que é Europeu.
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Não interessa tratar a Europa por tu se ela quer ser devidamente tratada e fazemos parte dela...
Nada neste País, pode ser perspectivado fora da Europa... estamos em desacelaração...estamos demasiado no passado... Não crescemos... não acompanhamos, estamos a ficar...parados na história ... no tempo.
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De 1974 1986 CRESCEMOS.....
Agora...parámos...
A Europa está a tornar-se numa potência... não sei a quantos por cento ao ano.
Há que acompanhar o passo.
A Globalização há-de engolir-nos desastrosamente se desastradamente não estivermos preparados para ela.
Estamos preparados para ela?
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Que tem o Dr Mário Soares a dizer, por exemplo, sobre isto em 30 minutos e como futuro Presidente da República?
A sua produtividade horária melhorou a meio da entrevista quando se esqueceu de fazer beicinho e deixou de falar na primeira pessoa do singular.
Mas não nos esclareceu.
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Espero sinceramente pelos debates.
Talvez eles acendam... a luz ao fundo do túnel!
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ACCB 30.11.05
Mário Soares, como Cavaco Silva, são uma espécie de sopa requentada de que ninguém verdadeiramente gosta. Felizmente há alternativas masi frescas.
ResponderEliminarDe Joaquim Fidalgo:
ResponderEliminar- 'A gente não sabe quem ele é. A gente não sabe como ele é. A gente não sabe o que ele pensa. A gente ouve o que ele diz mas a gente nunca sabe o que ele pensa, porque nunca sabe se o que ele diz é o que ele pensa, ou se é apenas o que ele pensa que é suposto dizer naquela circunstância.'
'De Soares, por exemplo, nós sabemos bem quem é e o que tem na cabeça - concordemos ou discordemos. Ele, sim, diz o que pensa, mesmo que nem sempre pense genial. E tem uma pessoa dentro, claro: sem que tenha vindo mal ao mundo, já o vimos comer (é, ele come!), já o vimos rir, já o vimos ralhar, já o vimos com chapéus bizarros, já o vimos cometer gaffes, enfim, já o vimos homem. Conhecemo-lo, gostemos mais ou menos.'
- Joaquim Fidalgo, 'Ele não come!', Público, 30.11.2005 -
Nós gostámos do texto.
ResponderEliminarNós gostaríamos que o futuro Presidente da nossa Reública fosse o Eça, a Agustina, o Pessoa, a Sophia, o Lobo Antunes (o escritor pois então) ...
Nós estamos fartos de gente que acha que é preciso ser militante de uma partido, dirigente de uma concelhia, presidente da Câmara, presidente do partido, Ministro ou 1º ministro e, finalmente, presidente da República. Enfim uma carreira...